Adeptos ao samba comentam 100 anos de história do ritmo

Amanhã é o dia nacional deste gênero que como diria o poeta: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é ... é ruim da cabeça ou doente do pé!"

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 01/12/2016
Horário 08:27
 

"Já cheguei chegando; Tô cheio de rima; Na boca do povo; Em qualquer esquina... Eu sou o samba. Tenho certeza que você vai se amarrar" Sensacional! Completando 100 anos de história, com referências identitárias da cultura afro-brasileira, a relação com a afrorreligiosidade, inicialmente um estilo musical que para muitos era sinônimo de "vadiagem", de forma discriminada. Sabem o que é isso? Isso é samba minha gente boa de bamba. É parte da identidade nacional brasileira. De um povo que sofre em meio a tantas lutas, mas não perde a esperança e entrega de presente para o grande público uma ferramenta que pode ser utilizada para exaltar ou criticar aquilo que está certo ou errado, respectivamente. E para homenagear o Dia do Samba, comemorado amanhã, expomos aqui apenas um pouquinho do que esse ritmo representa para alguns artistas da cidade.

Jornal O Imparcial Cantora Adriana Cavalcanti se rende ao eterno mestre Cartola!

"Como cantora, tenho uma paixão especial pelo samba. Cantá-lo exige uma grande acentuação, firmeza rítmica, ao mesmo tempo é um ritmo bem sincopado e você tem que executá-lo mais rasgado com uma malemolência, um suingue de quem está no morro. Diferente de cantar bossa nova que é mais intimista. Vai muito do cantor a interpretação, algumas músicas pedem um pouco mais de doçura, mas o samba tem voz própria, intensidade a mil. Eu quando canto samba, canto o Brasil. Como diria o poeta: ‘quem não gosta de samba, bom sujeito não é... é ruim da cabeça ou doente do pé! ", destaca Adriana Cavalcanti.

Ela explica que quando participou do projeto Sexta do Samba, escolheu o mestre Cartola, justamente por seu samba e melodias serem mais difíceis, alguns com notas peculiares e que ainda tem aquele lance das pessoas serem convidadas a dançar...

"Noel Rosa, Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Ary Barroso são as grandes referências do morro! Letras muito gostosas de cantar. Passa ano e vem ano e é assim com qualquer pessoa, samba de tradição, o sofrimento, o morro, o amor perdido, as mulheres são temas das músicas colocadas em um português bonito ... isso é o samba", frisa Adriana Cavalcanti.

 

Solta o samba


Elly Guimarães é outra representante de peso da alegria contagiante do samba. Para ela, esta é uma das maiores manifestações populares da cultura brasileira e que sente uma nobre por poder representá-lo, preservando e mantendo essa tradição nos palcos.

Ela explica que são várias as vertentes de estilos dentro do samba: como samba de enredo, samba canção, samba de roda, samba de partido alto, o chamado "pagode", etc... Independente disso, sua música traz alegria, felicidade, faz o povo dançar e cantar.

A goelinha de ouro como é conhecida tem referências iluminadas, como Beth Carvalho, Clara Nunes, Martinho da Vila, Fundo de Quintal, Jorge Aragão, Cartola, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa. É muita gente boa! Conforme ela, o samba foi preservado na "elite" da MPB (Música Popular Brasileira) como por Vinicius de Moraes & Toquinho, Baden Powell, Chico Buarque e grandes interpretes como: Elis Regina, Maria Bethânia, MPB4 entre outros. "Eu, tenho orgulho em deixar a minha marca que é o samba, a minha colaboração quando canto com toda minha alma: ‘Não deixe o samba morrer. Não deixe o samba acabar...’ essa nunca pode faltar ", destaca Elly.

Adriana complementa dizendo que isso tudo é bem Brasil. "Existe aquele samba mais ‘elitizado’, com uma harmonia mais completa e o do morro, harmonia mais simples, mas a parte melódica é mais difícil. Amo cantar os dois, pois este é um dos estilos musicais mais envolventes do mundo. Fico triste porque hoje o samba deveria representar o Brasil lá fora, enquanto que outros estilos é que estão fazendo isso", salienta a cantora.

 

Paixão


Além dos cantores, interpretes de grandes ídolos do samba em Prudente, existe um cara que é apaixonado pelo samba e cultiva uma grande paixão há 30 anos. É o famoso engraxate José Carlos Garcia Nunes, o Braminha, como é carinhosamente conhecido na cidade. Emolduradas em quadros, ele exibe mais de 15 capas de vinil, de grandes ícones do samba, centenas de discos de eternos mestres, como o grandioso poeta da vila, Noel Rosa; Cartola; Nelson Cavaquinho; Pixingiuinha; Silvio Caldas; Paulinho da Viola; Ataulfo Alves; Ismael Silva; Silas e Dona Ivone Lara; Wilson Batista (junto com Noel faziam trocadilhos), entre outros vários.

A reportagem tentou falar com essa figura carinhosa, não obtendo êxito.  Mas, em outra ocasião, mais precisamente na comemoração nacional da data, no ano passado, o humilde engraxate expôs que o gênero, música importante e universal, deveria, assim como o tango, na Argentina, ser valorizado e respeitado para nunca morrer.

Braminha enfatizou na ocasião que criança precisa de música nas escolas e como Noel Rosa mesmo disse: "a civilização subiu o morro e levou coisa boas e também ruins’. O samba é uma das boas. Suas letras contam toda uma história, falam da realidade".

 

Curiosidades


Segundo o engraxate, consta no livro "Noel Rosa – Uma biografia", de João Máximo e Carlos Didier - que ele ganhou de presente do professor Diores -, que o pai de Noel Rosa, que tinha lojas no Rio de Janeiro, após quebrar, veio ser agrimensor nas terras de Araçatuba (SP) e seu tio, médico em Aquidauana (MT). Ele ficou seis anos fora, depois retornou ao Rio.

Braminha cita outras duas coincidências interessantes que o ligam ao seu grande ídolo do samba, considerado patrimônio brasileiro. "Noel Rosa se casou com uma mulher que tinha o mesmo nome da minha mãe, Lindaura. E a sogra dele se chamava Olindina, o mesmo nome da minha esposa", salienta.

 

saiba mais

DIA DO SAMBA

De acordo com o link www.academiadosamba.com.br/memoriasamba, o Dia Nacional do Samba surgiu por iniciativa de um vereador baiano, Luis Monteiro da Costa, para homenagear Ary Barroso, que já tinha composto seu sucesso "Na Baixa do Sapateiro", mas nunca havia posto os pés na Bahia e visitou Salvador pela primeira vez exatamente nesta data. Daí por diante, a comemoração foi se espalhando Brasil afora tornando-se uma celebração nacional. Atualmente duas cidades costumam comemorar o dia: a baiana Salvador, que faz diversos shows no Pelourinho, e Rio de Janeiro, com o Pagode do Trem.

 
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