Agnaldo Timóteo

O Espadachim, um cronista a favor do sábio e do sabiá

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 06/04/2021
Horário 05:30

No fim dos anos 60, já famoso como cantor, Agnaldo Timóteo sempre visitava a Rádio Piratininga, em São Paulo, para bater um papo com os amigos, entre eles este que vos fala e o discotecário Carlos Vidal. Ele também aproveitava para caitituar o novo disco recém lançado pela Odeon.
Certamente vocês estranharam a palavra caitituar, mas o rapaz aqui explica. Caitituar era uma gíria - ou um neologismo - que significa divulgar, no caso, divulgar o disco recém saído do forno.
Timóteo era dono de um vozeirão. Tinha gogó, coisa que falta a muitos cantores, principalmente a esses tontos que hoje em dia atormentam nossos ouvidos com suas musiquinhas inexpressivas, sem qualidade alguma.
E foi o vozeirão dele que uma vez me salvou de uma enrascada em Osasco, onde o levei para fazer um show em um cinema da cidade. Mal o Agnaldo começou a cantar e, de repente, o microfone pifou. Pensa que ele se abalou ou se irritou? Entregou o microfone para um assessor e continuou cantando.
Com seu gogó potente, ele foi ouvido por todos e talvez até fora do cinema. Um jornalista esculhambou o show classificando o show de caça-níqueis. Não era caça-níqueis, era caça-sobrevivência. Aparelhos elétricos costumam dar defeitos. Daí a importância da voz potente nessas horas.
Timóteo era generoso e ajudava as pessoas necessitadas, como lembrou o Ronnie Von. O eterno príncipe, porém, falou bobagem, demonstrando alienação política, ao lembrar que o Timóteo não deveria ter se metido com a política. Como assim, cara-pálida? A política é a arte do possível, como se falava na Grécia antiga.
Agnaldo Timóteo se aliou a Leonel Brizola e se elegeu deputado federal pelo Rio de Janeiro e, com mais de 500 mil votos, tornou-se o deputado federal mais votado do país até então (década de 80). Também foi vereador no Rio e em São Paulo.
Ele rompeu com Brizola depois de solicitar dinheiro para fundar a sua própria gravadora, segundo o jornalista Fernando Brito. O governador negou, como também negou a contratação de ao menos 20 cabos eleitorais, que trabalharam na campanha do cantor.
Timóteo era de briga. Aliás, ele não brigava: ele batia. Uma vez, demonstrando imensa coragem, o cantor foi se sentar na arquibancada da torcida do Flamengo, no Maracanã, onde jogavam Flamengo e Botafogo. Até que os flamenguistas o trataram bem, talvez em respeito ao artista que ali estava, torcedor fanático do Botafogo.
Timóteo não gostava de ser chamado de cantor brega e, como prova, lembrava que gravava canções do Charles Aznavour, entre as quais "Mamãe", a versão de "La Mamma". Também gravou músicas do Gonzaguinha e "Quem sabe", de Carlos Gomes, autor de "O Guarani".
Entre seus grandes sucessos estão "A Casa do Sol Nascente", versão de uma canção da época da Guerra Civil Americana (autor desconhecido), "Quem é?" e "Os Verdes Campos da Minha Terra", também versão.
E "Meu Grito?" É o seu maior sucesso, composto por Roberto Carlos. Reza a lenda que quando o Roberto começou a namorar a Nice, que foi sua primeira esposa, ele não queria tornar público o namoro para não "entristecer" as fãs (leia-se para não prejudicar as vendas de discos).
E aí Roberto se inspirou e compôs "Meu Grito", evitando dizer "Minha Nice". No verso final, Timóteo canta "para ninguém saber seu nome, eu grito só meu bem". Penso que o Agnaldo Timóteo foi a antepenúltima grande voz da Música Popular Brasileira. Digo isto porque ainda temos o Djavan e o xará do Timóteo, o Rayol. 
 
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