Agualusa e lusofonia

António Montenegro Fiúza

«A língua portuguesa é uma construção conjunta de todos aqueles que a falam - e é assim desde há séculos. A minha língua - aquela de que me sirvo para escrever -, não se restringe às fronteiras de Angola, de Portugal ou do Brasil. A minha língua é a soma de todas as suas variantes. É plural e democrática.» José Eduardo Agualusa, in “Por uma Irmandade da Língua”, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa»  
Nascido em Angola, José Eduardo Agualusa apresenta um modo muito próprio e vanguardista de encarar a língua portuguesa e a lusofonia; identifica-a com as suas raízes e ramificações, como a soma das sua diversas partes, mas transcendo-a, numa evolução constante e diária.
Valoriza cada um dos seus agentes e das suas gentes, pessoas humildes que sem se aperceberem, fertilizam a língua, fazem-na crescer e desabrochar em milhentos novos dizeres e palavras.
«A sua imensa riqueza está nessa diversidade e na capacidade de se afeiçoar a geografias diversas, na forma como vem namorando outros idiomas, recolhendo deles palavras e emoções. Aprisionar a língua portuguesa às fronteiras de Portugal (ou de Angola ou do Brasil) seria mutilá-la, roubar-lhe memória e destino.», idem 
Livre de dominados e dominadores, de superiores e inferiores, o espaço da língua portuguesa cria-se e recria-se de forma livre, fazendo uso da música, do teatro, da dança urbana, numa participação democrática e desprendida de fronteiras, temores ou tabus. José Eduardo Agualusa conta estórias de Angola: terra de coissãs e bantos, povos agricultores, caçadores e coletores, país de diversidade e de riqueza natural e cultural. Um dos maiores países de África, o 2º mais populoso no espaço lusófono, com mais de 32 milhões de falantes, que enriquecem a lusofonia, todos os dias, no seu falar e no seu cantar, com os ritmos quentes do semba.
Numa realidade cuja democracia ainda é neonata e frágil, «A literatura é, deve ser, sempre, um espaço de reflexão, portanto, não pode pôr nada de lado. E a literatura trata da vida, trata da sociedade, trata do homem, trata das grandes questões que preocupam a humanidade. Então, toda a literatura, nesse sentido, é política [e] deve ser de intervenção», José Eduardo Agualusa.
E assim, de mãos dadas, a literatura e a língua portuguesa transformam-se, numa simbiose fascinante, quase impercetivelmente, mas de modo constante e progressivo.
 

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