Estamos completando dois anos desde que se deflagrou o isolamento social na cidade de Presidente Prudente. Inicialmente contamos os dias para nos reencontrarmos com tantas pessoas a quem queríamos bem. Os dias e meses se passaram e o que restou afinal no retorno à presencialidade?
Restou um reencontro de pessoas em situação de estresse pós-traumático, imersas em um contexto desgastante de alta inflacionária.
Estamos todos traumatizados de alguma forma com os eventos impactantes dos últimos tempos. Alguns sofreram mais com o medo de pegar o vírus, outros com o isolamento e a saudade e outros ainda com as perdas de pessoas queridas ao longo do caminho.
O surgimento e agravamento de quadros de ansiedade e depressão nos deixaram mais impacientes e intolerantes. Nos deixaram menos disponíveis ao acolhimento do outro. As dores vividas na solidão parecem ter nos deixado mais propensos ao egocentrismo e à agressividade.
Mas o que fazer neste cenário? Agnes Heller nos diria que para superar o sofrimento é necessário implicar-se com ele: “Ajuda-te a ti mesmo e ajuda aos demais!”
Ou seja, não poderemos sair deste quadro pós-traumático se não nos dedicarmos a curar nossas feridas. Afinal, o que estamos fazendo para nos acolher e curar destes tempos de tormenta? Alguns buscaram aprender jardinagem, outros adquiriram um animal de estimação, outros buscaram práticas de atividades físicas, tratamento psicoterápico, a meditação, a igreja, o bate-papo na calçada com os vizinhos e a rifa para ajudar uma boa causa.
Não há regra aqui, são infinitas as possibilidades de ressignificar um evento doloroso. Cada um pode percorrer seu caminho, o importante é percorrê-lo. A pior maneira de enfrentar uma situação traumática é ignorando-a ou projetando suas angústias e frustrações em seus semelhantes. Pense e reflita: O que você está fazendo pela cura das dores que vivenciou durante a pandemia? O que você pode fazer pelos outros que também estão sofrendo?
Heller, A. (2004). Teoría de lossentimientos. México: Ediciones Coyaoacán.