Amazônia, sua linda - I

OPINIÃO - Saulo Marcos de Almeida

Data 21/06/2022
Horário 04:30

Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. 
Gênesis 1.31

A frase que dá título ao artigo foi a última postagem de Dom Phillips em sua rede social. Dom, se aportuguesado, pode muito bem ser traduzido por dádiva ou presente. De origem inglesa há muitos anos trabalhava e amava o Brasil, a ponto de escolhê-lo para residência fixa e domicílio. Jornalista de profissão cobria o drama do meio ambiente e ecologia no Brasil, para jornais como o The Guardian e o The New York Times. Também escrevia um livro sobre as invasões de terras indígenas. Estava ali no Vale do Javari para entrevistar e dar continuidade ao seu trabalho de: Como salvar a Amazônia. 
Num passado ainda recente, chorávamos a morte de outra estrangeira: a irmã católica, Dorothy Stang. Freira americana, brutalmente assassinada em Anapu, Estado do Pará (12/02/2005).  Em sua piedade cristã e paixão pela terra que vivia a proteger, dizia algo mais ou menos assim: “Andar na Floresta Amazônica é como andar nos braços de Deus”. Enquanto cuidava da mata - batalhando por um desenvolvimento sustentável, criando condições de trabalho e geração de empregos, abrindo escola na Rodovia Transamazônica -, encarou seu algoz de frente, que lhe perguntou se ela estava armada. Ao que Dorothy respondeu: “Eis a minha arma”. Era uma Bíblia que, antes de sacá-la, não a impediu de levar seis tiros, a mando de pelo menos dois fazendeiros.  Dorothy tinha 72 anos. 
Todavia, além de ambos serem estrangeiros e morrerem assassinados no Brasil pela defesa da Amazônia, dos índios e ribeirinhos, pergunto: o que Dom e Dorothy tinham em comum para experimentar a crueldade do mesmo destino?
Respondo: O ódio desenfreado daqueles que desejam a destruição da Floresta Amazônica, a extinção dos indígenas no país, a pesca e a caça ilegais sem limites quaisquer e o maldito ganho/lucro de uns poucos homens que se acham proprietários de um santuário ecológico mundial. Dom e Dorothy tornaram-se objetos de um sentimento desumano que conhece apenas o vocabulário da morte e do aniquilamento. 
O que a religiosa e o jornalista fizeram para merecer tanta violência e, infelizmente, a morte em terra tupiniquim? 
O que se sabe de testemunhos variados e idôneos é que ambos (a americana e o inglês) não tinham outros interesses a não ser o cuidado e o zelo com a floresta tropical amazônica. Desejavam, simplesmente, ser mordomos estrangeiros de uma terra que não pertencia a eles mesmos. 
Tinham consciência da importância de se preservar a maior mata quente de todo o mundo e toda a sua biodiversidade. 
A religiosa anunciava a principal cobertura vegetal do Brasil como expressão/revelação de Deus. Sentia-se, então, acolhida em Seu colo à medida em que experimentava em seu corpo – extensão da natureza - a criação generosa e gratuita de Deus ao ser humano.  O jornalista, encantado pela estética da criação, apaixonado pelo jardim de 5.5 milhões de km², 2.500 tipos de árvores, mais de 30.000 tipos de plantas, fazedor de palavras que era, se rendeu: Amazônia, sua linda!
Dom, por razão que a própria razão desconhece, conseguiu em poucas letras dar voz à criação de Deus que, aos montes e rapidamente, vem sendo destruída pelo descaso e, sobretudo, pela ganância do ser humano que avança inescrupulosamente para a destruição da Amazônia que também é vida e gratuidade divina.
 

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