Anderson Lacerda, o Escobar brasileiro, é transferido para P2 de Venceslau

Um dos traficantes mais procurados do Brasil chegou à unidade na tarde desta quinta-feira, sob forte esquema de segurança, informou SAP

REGIÃO - DA REDAÇÃO

Data 09/09/2022
Horário 14:38
Foto: Folhapress
Anderson Lacerda constava na lista da Interpol há dois anos
Anderson Lacerda constava na lista da Interpol há dois anos

A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) informou nesta sexta-feira que o preso Anderson Lacerda, conhecido como “Gordão”, um dos traficantes mais procurados do Brasil, integrante da liderança de facção criminosa e que constava na lista da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) há dois anos, foi transferido do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Chácara Belém 1, na capital paulista, para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, sob forte esquema de segurança.

Ele saiu nesta quinta-feira, às 9h56, com equipes de agentes de escolta e vigilância penitenciária e apoio de viaturas da Polícia Militar. A transferência se deu por via terrestre e ele chegou no mesmo dia em Venceslau, às 15h40.  

Nesta quinta, também foi transferido para a mesma unidade de Presidente Venceslau uma importante liderança da facção criminosa, Adilson Tavares de Lyra Cavalcante, conhecido como “Budoguinho” ou “Buldog”, proveniente do CDP de Itapecerica da Serra. Ele também chegou no mesmo dia, às 15h40. 

Prisão do Gordão

Conforme a Folhapress, a Polícia Civil prendeu Anderson Lacerda Pereira, o Gordão, na tarde de segunda-feira, em Poá, na região metropolitana de São Paulo. Ele almoçava em um restaurante popular na Avenida Antônio Massa, no centro do município, quando foi encontrado.

Gordão foi preso por investigadores do 103º Distrito Policial, de Itaquera, na zona leste da capital. "Os policiais realizavam trabalhos de investigação quando encontraram o suspeito, que era procurado pela Justiça", afirmou a SSP (Secretaria de Segurança Pública), em nota.

A defesa do preso nega que ele tenha envolvimento com o tráfico de drogas.

Curso das investigações

De acordo com o delegado Fernando Santiago, do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico), a polícia começou a investigação após a apreensão de um arsenal em uma casa na zona leste da capital paulista, em novembro de 2019. Entre as armas apreendidas, foram encontrados sete fuzis e oito pistolas 9 milímetros. E havia a informação de que o armamento pertenceria a duas pessoas com apelidos de Gordão e Compadre.

Ainda segundo a Folhapress, foi por meio de um carro estacionado na garagem, que passou a ser monitorado, que a polícia chegou até Gordão. O veículo circulava pelas regiões de Arujá, onde o suspeito preso na segunda chegou a ter 16 casas em um único condomínio de alto padrão, além de outros imóveis, em um patrimônio avaliado em R$ 130 milhões.

"Descobrimos que ele já tinha sido investigado pela Polícia Federal em ao menos duas oportunidades. Uma delas, em 2010, por montar uma empresa de fachada de produtos farmacêuticos, que desviava para misturar com a cocaína que vendia", disse o delegado.

A outra, de 2014, por envolvimento com André de Oliveira Macedo, o André do Rap, pela suspeita de tráfico de toneladas de cocaína para a Europa via Porto de Santos. O suspeito acabou condenado a sete anos de prisão pela Justiça Federal. Por causa da investigação internacional, Gordão chegou a ter seu nome incluído na lista de procurados pela Interpol.

Foi da cadeia, disse o delegado, que o suspeito conseguiu se infiltrar na Prefeitura de Arujá e fechar contratos milionários para comandar a coleta de lixo do município e um hospital. "Ele lavava e desviava dinheiro público", afirmou o delegado. A apreensão de pen drives com mensagens de celular arquivadas, que estavam com o filho de Gordão, levou a polícia a descobrir o esquema na Prefeitura. Em nota, a Prefeitura de Arujá informou que a empresa investigada foi substituída em 2020 e que nunca prestou serviços para a atual administração.

Em um dos mandados de busca e apreensão por causa da investigação de fraude em contratos públicos, a polícia afirmou ter encontrado passagem secreta para fuga e bunker em uma das casas de Gordão. Também foram achadas mais armas, entre pistolas, fuzil e metralhadora.

Admiração por Escobar

Também conforme a Folhapress, em outro imóvel, em um sítio em Santa Isabel, também foram encontradas armas, novamente de acordo com o delegado do Denarc. O local é chamado de Guamuchilito, que, segundo a polícia, é uma homenagem à região de nascimento do narcotraficante mexicano Amado Carrillo Fuentes, morto em 1997.

No sítio, disse o delegado, Gordão mantinha uma espécie de minizoológico, com macacos, araras e até um jacaré. O local teria sido inspirado em Hacienda Nápoles, fazenda de Pablo Escobar, o narcotraficante colombiano líder do cartel de Medellín, morto pela polícia em 1993.

Nos imóveis, a polícia ainda afirmou ter achado textos e poemas, que teriam sido escritos pelo brasileiro com várias referências ao colombiano. "Ele deixava claro que admirava o Escobar", disse o delegado, que afirmou ainda que a polícia encontrou uma música, "Un ser humilde", que teria sido composta em homenagem a Gordão, sob encomenda dele mesmo.

O suspeito de tráfico foi preso no restaurante popular de Poá junto com um homem que seria seu braço direito, após investigação da polícia de Itaquera. "Mesmo quando era procurado pela Interpol, ele circulava livremente, pois era de sua personalidade", afirmou o delegado Santiago.

Gordão teria montado mais de 30 clínicas médicas e odontológicas na Grande São Paulo. Uma das unidades, afirmou o delegado do Denarc, foi usada para atender Giovanni Barbosa da Silva, 29 anos, o Koringa, preso em 9 de janeiro de 2021 em Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

Outro lado

À Folhapress, a defesa de Anderson Lacerda Pereira afirmou que o processo demonstrará sua inocência sobre a organização criminosa denunciada. Disse ainda que ele foi condenado pela 5ª Vara Federal da cidade de Santos e que não responde a mais nenhuma ação penal por tráfico - há mais um processo de comércio de substância farmacológico de uso proibido. Sobre bunker citado pela polícia, a defesa afirmou que era apenas um quarto mais fechado, aprovado na planta do imóvel.

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