Aos 15, existe apenas uma tragédia verdadeira

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 23/09/2025
Horário 06:00

E foi do nada que a agonia começou. A vida corria tranquila no sábado à noite, daqueles bem brandos, preguiçosos. Só ia, até que foi. Ela mal entrou no carro e já veio o desespero: “Paiiiiii!!!! Eu não mereço!!”.
 
Era minha filha de 15 anos, que havia acabado de sair da missa e eu não conseguia imaginar o que poderia ter acontecido de tão ruim dentro de um lugar santo como a igreja. Havia choro, soluços e pela minha mente passou de tudo um pouco.

Será que foi algo com a promessa de namorado que começou a rondar a vida dela ultimamente? Sim, agora estou nesta fase. Um dia eu vivi experiência de uma paixão na adolescência. O mundo não gira, ele capota em questão de segundos. Os olhares, as dores, as alegrias, as rejeições, tudo hipnotiza e dói. Bem, vou confessar que como bom pai protetor, já estava até comemorando se fosse algo que iria acabar com tudo, embora o rapaz seja bonzinho e simpático. Minha filhinha, afinal. Mas, não era nada disso. Droga.
 
Daí, pensei nas amigas. Aí é ruim, né? Porque na adolescência as amizades não são somente amizades. São pactos de sangue. São portos seguros para qualquer situação. É a descoberta de que o mundo afinal não é tão pesado assim, que há uma luz na escuridão. Alguém está por você e elas se reconhecem apenas no olhar. Pensei: “Brigou feio com a Malu. Ou com a Ana Carolina. Ou com quem quer que seja BFF e isso não é bom. É terremoto acima dos 9 pontos”. Bem, não era.
 
Tá bom, então. Se não era amor ou amizade. Então foi na escola. Pronto! Nota baixa, certeza e a bendita apareceu no app da escola bem naquela hora, só para estragar o final de semana. Matemática? Geografia? Biologia? Artes? Artes, não, né? Será? Já sei: Língua Portuguesa! Meu Deus, que desastre. Filha de um jornalista como eu e com nota baixa em português? O que eu vou falar para meus amigos? Ah, não, peraí! A semana de provas na escola só ia começar na segunda-feira. Então, não tinha nota para sair. Mas gente, o que será?

Pedi para ela respirar, acalmar o coração – dela e o meu, e me dizer: “O que aconteceu, minha filha?” 

E diante de um pedaço de tela esverdeada, meio pixelada de cima embaixo, algumas certezas que aprendi naquele momento: um coração partido? Pode se recuperar. Uma nota baixa? É só estudar um pouco mais. Uma amizade desfeita? E daí, o mundo está cheio de futuros novos amigos. 

Nada, mas nada mesmo, pode abalar mais alguém com 15 anos de idade do que um celular quebrado.
 

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