Apego, presente e presença

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 18/12/2022
Horário 05:00

As festas tradicionais do ano trazem o desafio dos presentes. Com o passar do tempo, presentear tornou-se obrigação. Um gesto, infelizmente, nem sempre gratuito; dá-se e se espera receber. Criam-se expectativas quanto ao que se ganhará. Fala-se em trocar presentes na tentativa de alimentar o dom, a gratuidade e a espontaneidade do ato, mas a pessoa se vê obrigada a presentear nalguns momentos do ano. Fica malvisto quem chega ao lugar da festa (casamento, formatura, aniversário...) de mãos abanando.
Há alguns anos, o jornal espanhol “El Pais” publicou reportagem sobre o minimalismo intitulada: “Jogar fora um objeto por dia vai fazer você se sentir melhor”. Na matéria, inquietantes perguntas: “Por que o supérfluo ocupa tanto espaço? Nossas posses nos possuem e escravizam?” Temos coisas demais? Pertencemos a nossos pertences? Às quais a personal organizer e especialista em Produtividade, Valentina Thörner, alemã residente em Barcelona, respondeu: “Todos temos coisas demais; nossa cultura está orientada para o consumo desenfreado. Não só de objetos, também de tarefas e atividades. E ainda por cima temos de dormir oito horas por noite!”. Fato é que há variadas fontes de angústia nesta época do ano. Quer-se com a seguinte história ajudar a refletir.
Um homem já maduro ao entrar num ônibus, subindo a escada, perdeu um de seus sapatos, que escorregou. A porta se fechou e o veículo saiu; não foi possível recuperar o calçado. Bem tranquilo, ele então retirou o outro sapato do pé e jogou-o pela janela. Vendo o que acontecera, um jovem perguntou-lhe: – “Por que jogou fora seu outro sapato?” – “Para que quem o encontrar seja capaz de usá-los. Provavelmente, alguém necessitado dará importância a um sapato usado encontrado na rua... e de nada lhe adiantará apenas um pé de sapato.” Dessa forma, o senhor mostrava ao jovem que não vale à pena agarrar-se a algo simplesmente por possuí-lo, nem porque você não deseja que outrem o tenha. Perde-se coisas o tempo todo. A perda pode parecer penosa e injusta inicialmente, mas a perda só acontece de modo que mudanças, na maioria das vezes positivas, possam ocorrer na vida.
Que Deus agracie você, leitor, com o desprendimento de coisas e pessoas. Que Ele ensine a buscar entre as coisas que passam, aquelas que não passam e que sustente o coração nas coisas do alto, lá onde está a meta da existência, a morada definitiva, e onde nada do que aqui prende fará mais sentido. É preciso fazer dom da própria vida, certos de que mais vale a presença do que o presente, às vezes, forçado.
Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!
 

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