As Galvão comemoram 66 anos de carreira

Irmãs, que lançam agora novo disco, relembram toda a trajetória da dupla, começando pelo distrito de Sapezal, onde começaram

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 31/07/2013
Horário 10:02
 

A melhor recompensa de um profissional de qualquer área é o reconhecimento de seu trabalho. E partindo deste propósito, Mary e Marilene Galvão, ou simplesmente As Galvão, podem se considerar realizadas nesse quesito. Com 66 anos de carreira, diga-se de passagem, um marco histórico, as cantoras sertanejas vêm ao longo dessas mais de seis décadas sustentando nada mais, nada menos, que 80 projetos lançados e mais de 11 milhões de cópias vendidas.

Jornal O Imparcial Memorial As Galvão, inaugurado no dia 30 de junho em Sapezal, contém amplo acervo histórico

E para comemorar este feito tão grandioso, após três anos da última gravação, elas lançam agora um novo álbum, intitulado "No Calor dos Teus Abraços", pela gravadora Atração. Por telefone, Mary ou Meire, como costuma ser chamada, falou à reportagem que o trabalho traz releituras de parte de seus maiores sucessos, além de três inéditas: "Eu e minha irmã" (Renato Teixeira), gravada antes por Eduardo Araújo e Nalva Aguiar, que segundo ela, retrata bem a trajetória das duas; "O culpado é você" (Fátima Leão e Alexandre Neto); e "Canto de Mulher", de Goiá Filho.

Entre as já consagradas, ela menciona a faixa título do disco, composição de Niceas Drumont e Cecílio Nena; "Colcha de Retalhos" (Raul Torres); "Triste Berrante" (Adauto Santos); e "Beijinho Doce" (Nhô Pai).

De fato não é à toa que tanto o público e críticos dos mais variados gêneros musicais se rendem ao talento e carisma da dupla e artistas consagrados se dizem seus fãs. Durante a entrevista, Mary deixa transparecer em sua voz aquilo que o público vê e ouve pelo rádio ou TV: simplicidade, humildade e seriedade de como conduziram até hoje suas carreiras.

Segundo críticos da área, principalmente os sertanejos, a trajetória das duas é um exemplo de sucesso a ser seguido, seja como profissionais ou como figuras humanas. "Duas mulheres conseguirem chegar a essa marca no Brasil, onde ainda existe um gênero machista, já é um troféu. E a música caipira é aquela que alcança a família. Para entrar nesse meio, tem que ter perseverança, honestidade e principalmente gostar do que faz. E nós amamos o que fazemos", exclama.

 

Começo de tudo

A trajetória das Galvão, Mary nascida em Ourinhos e Marilene em Palmital, teve início em 1947, na pequena Sapezal, distrito de Paraguaçu Paulista, bem pertinho de Presidente Prudente, quando eram ainda apenas duas crianças, uma com 5 e a outra com 7 anos de idade. De origem muito humilde, as duas meninas, filhas do senhor Bertoldo (alfaiate) e de dona Maria, tinham apenas uma viola, um acordeon e uma vontade muito grande de vencer, ingredientes estes fundamentais para o que viria pela frente. Apoiadas pelos pais tiveram muita ajuda de Baduzinho, muito famoso na região.

De acordo com Mary, a primeira oportunidade de mostrarem o talento que tinham foi na Rádio Club Marconi, em Sapezal. E não demorou muito para que emissoras de maior prestígio do interior se interessassem pelas pequenas prodígios. O convite para cantar em São Paulo chegou bem rápido e elas conquistaram um público fiel, além de contratos de trabalho nas rádios Piratininga, Nacional (atual Globo) e Bandeirantes.

Com contratos assinados com as maiores gravadoras do País, iniciava um caminho repleto de vitórias, e o consequente e merecido reconhecimento em um difícil mercado dominado, como sempre, pelos homens.

 

Frutos conquistados

Conhecidas nas primeiras décadas de carreira como Irmãs Galvão, as cantoras ganharam vários discos de Ouro e Platina e colecionaram inúmeros sucessos, escrevendo seus nomes na história da música sertaneja de raiz. Na vasta lista de prêmios, destacam-se os Prêmios Sharp (atual Prêmio da Música Brasileira), Prêmio Caras e indicação para o Grammy Latino.

Com uma visão moderna e eclética, sem perder jamais as raízes, elas têm a mesma facilidade e graça ao interpretar músicas escritas por Chico Buarque, Vinícius de Morais, João Bosco, José Fortuna, Nonô Basílio, Moacyr dos Santos ou Paraíso. A figura do multi-instrumentista, compositor e produtor musical Mário Campanha na direção da carreira delas, também é acentuada por Mary, que é sua esposa. Ele é produtor da dupla desde 1986. Irreverentes como sempre foram, elas dizem que ele é casado com As Galvão, tamanha a proximidade dos três.

Mary fala que a agenda sempre cheia, se apresentando por todos os cantos do País, as levou a todas essas conquistas. Elas estiveram em Prudente há uns dois anos, fazendo um show no Sesc Thermas e expressam uma vontade grande em voltarem. "Quando estivemos ai foi maravilhoso! O local estava cheio e o público cantou o tempo todo com a gente. Podemos nos convidar? . As meninas de Sapezal gostariam de cantar novamente em Presidente Prudente", destaca.

 

Homenagem

No dia 30 de junho deste ano, as irmãs voltaram a Sapezal, onde viveram, conforme Mary, um dos momentos mais emocionantes da carreira. Na ocasião, elas receberam da Prefeitura de Paraguaçu Paulista uma homenagem definitiva, com um memorial que oferece para o público um amplo acervo histórico. No local, os visitantes podem ver de pertinho instrumentos originais, fotos, capas de LP’s, CD’s e roupas usadas em shows. Além de poder resgatar diversas entrevistas que foram publicadas em jornais e revistas.

Denominado Memorial As Galvão, o espaço fica ao lado da antiga estação ferroviária do distrito. "Geralmente as pessoas são homenageadas depois que já se foram desta vida. Um memorial em vida então, sem palavras! Já choramos muito e quando olhamos uma para a outra mal acreditamos. Estamos muito felizes", ressalta.

Segundo Mary, retornar ao local responsável por terem sido projetadas para o mundo artístico é simplesmente emocionante. "Fomos muito bem recebidas, com muito carinho por toda a população. Revimos nossos amigos de escola e reafirmamos nossa ideia de que só sentimos saudades do que é bom", afirma. Conforme a cantora, elas saíram de Sapezal, mas Sapezal jamais saiu delas.

 

Reconhecimento

"Na minha opinião, é muito difícil encontrar duplas femininas do porte das Galvão. Duas irmãs que cantando juntas formam um casamento perfeito de vozes. Show de interpretação e talento que elas têm! Um misto de uma segunda voz bem colocada com uma primeira adocicada. Para mim, são poucas as duplas que cantam de verdade e representam a música sertaneja de raiz, e As Galvão é uma delas. Parabéns por tantos anos de carreira levantando a bandeira da nossa música caipira". Esta é a visão de um dos maiores intérpretes e conhecedor da música brasileira na atualidade, o cantor Daniel.
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