Até quando?

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 09/04/2023
Horário 05:40

O sono ácido
As dívidas ao amanhecer
Trazendo náusea 
Uma falsa ilusão
O amor perdido
Num café da manhã com pão dormido 
A cerveja quente na geladeira sem luz
Um táxi lotação na espera 
É mais um dia de esperanças
Deus no comando
O Diabo sorrindo
O estômago roncando de fome 
O desemprego subindo
A raiva que nunca passa
Os olhos que nunca choram
O assovio do engraxate 
Fazendo uma batida perfeita
Nos sapatos lustrados de alguém engravatado
O delirium-tremens de um alcoólatra
Tarântulas e ratazanas subindo em seus lençóis rasgados de fracassos
A garrafa de pinga vazia no chão sujo de um quarto escuro
A prostituta fazendo um homem velho ser jovem
O gol do craque do time de futebol 
Enfeita a realidade cruel 
Mendigos que já foram gente 
Dormem nas ruas 
Cobertos com folhas de jornais nos bancos de jardim
Nas calçadas de cimento ou prédios abandonados 
Aonde que a minha vida deu errado?
Carolina acabou comigo
O amor não é para os covardes de afeto
Nada será como antes
O câncer que voltou
A mãe que chorou 
O filho que se foi 
O presidente que roubou
O juiz que vende sentenças 
O delegado cansado
O policial vigiado
O bandido assaltou e matou
A luz da justiça opaca
A imprensa esconde a verdade
Satisfeita com as polpudas verbas 
Mamam nas tetas nefandas
De um governo corrupto
O silêncio dos covardes
A liberdade atrás das grades
A impunidade livre, leve e solta
A corrupção chicoteando a democracia 
Que país é esse? 
A apatia dos justos
O desencanto dos sonhadores 
A semente da ilusão vai renascer 
Em todas as manhãs?
A luta do bem contra o mal
O amor e o ódio
São lutas eternas 
Os pedintes nos sinais vermelhos
Os vidros dos carros fechados 
O ar condicionado ligado 
Com prestações atrasadas
Os juros altos
Os cartões de créditos estourados 
Os banqueiros sorrindo
As pupilas dilatadas
As narinas ressecadas
As balas perdidas
Estourando corações inocentes 
A descrença no sistema
A esperança perdida 
Os sonhos sonhados
Não germinam mais no solo 
Duro da realidade
A criança doente
A mãe desesperada nas filas das UBS
A solidão da velhice 
Agarrado no passado
Um homem que não quer ser homem
A mulher que não quer ser mulher
As peles feitas de cores 
Mas não há tinturas nos corações 
Por que questões raciais?
O voto comprado
A miséria de muitos
É a felicidade de poucos
Até quando?

Publicidade

Veja também