A violência contra a mulher segue como uma das páginas mais tristes e vergonhosas da sociedade brasileira. Em pleno século 21, ainda é necessário abrir espaço repetidas vezes para relatar histórias de mulheres que sofreram, foram brutalizadas e perderam a vida pelas mãos de homens que, muitas vezes, faziam parte de seu círculo mais íntimo. Companheiros, ex-companheiros ou pessoas de confiança transformam relações em cenários de terror, dor e morte.
O caso revelado nesta semana em Presidente Prudente escancara a crueldade que insiste em se repetir. Um homem de 53 anos, desempregado, foi preso ao apresentar um RG falso durante abordagem da Polícia Militar no Jardim Humberto Salvador. Contra ele, havia um mandado de prisão em aberto e uma condenação definitiva de 23 anos de reclusão em regime fechado por latrocínio, crime cometido em 2007, na cidade de Colorado (PR), quando assassinou uma mulher de 54 anos com golpes de martelo na cabeça. Após o homicídio, roubou dinheiro, folhas de cheque, cartões de crédito e um veículo da vítima. Uma violência extrema, fria, desumana.
A história se agrava ao lembrar que o autor chegou a ser preso em flagrante, mas fugiu da delegacia em 2009, em uma ação cinematográfica que libertou outros detentos. Anos se passaram, a vítima permaneceu apenas na memória e nas estatísticas, enquanto o agressor circulava livremente até ser recapturado quase duas décadas depois. Um retrato cruel da lentidão, das falhas e das feridas abertas no sistema de Justiça e na proteção às mulheres.
Cada novo caso reacende a mesma pergunta incômoda: até quando mulheres continuarão pagando com a própria vida por uma cultura que ainda tolera o machismo, a violência e a banalização do feminicídio? Até quando este espaço precisará abordar o mesmo tema, com novas vítimas, novos algozes e a mesma indignação?
Não se trata apenas de noticiar crimes. Trata-se de denunciar uma realidade que insiste em persistir. Enquanto mulheres seguirem sofrendo e morrendo dentro de suas próprias casas ou pelas mãos de quem um dia disseram amar, o silêncio jamais será uma opção. Até quando?