Bailarino com carreira internacional é atração desta sexta em mostra

Foram nove meses de estudo para desenvolver o trabalho e sua linguagem, que está na estrada agora via ProAC/SP (Programa de Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo) e Circuito Cultural Paulista.

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 12/06/2015
Horário 10:34
 

Após quase 30 anos fora de sua terra natal, período em que atuou como bailarino em renomadas companhias mundo afora, como Zürich OpernHaus (Zurique), Scapino Ballet (Holanda), o GoteborgsOperan (Suécia), o Cullberg Ballet (Suécia) e no Balé da Cidade de São Paulo, o bom filho, Luiz Fernando Bongiovanni, à casa torna! Nesta noite, a família prudentina poderá ter o prazer de assistir, pela primeira vez, um trabalho seu, com o grupo Núcleo Mercearia de Ideias (SP/2009).

Ele vem para duas ações: hoje como coreógrafo do espetáculo "Nossos Sapatos", no Teatro Paulo Roberto Lisboa, às 20h. E amanhã, das 14h às 17h, para ministrar a oficina "Improvisação e Composição - Um Caminho Sem Aflição. Ambas gratuitas, integram a 11ª Mostra de Teatro de Presidente Prudente, que iniciou no dia 6 e segue até sábado. Também hoje, a Companhia de 2, de São José dos Campos (SP) apresenta "A Nau dos Desterrados", às 22h, no Boulevard Os Sombras e os Temperamentais, do Matarazzo.

Conforme lembra o bailarino, ele saiu daqui na década de 80, logo depois de terminar o terceiro colegial para fazer Escola de Comunicação e Artes na USP (Universidade de São Paulo). Ele comenta que está sentindo uma mistura de ansiedade e ao mesmo tempo uma tentativa de se acalmar e apenas pensar: "Ok, tudo bem. Isso é o que faço . Me apresentei aí quando comecei a dançar com a Helga Urel, Studium Cia de Dança. Além disso, fiz teatro com o José Fábio Sousa Nougueira. Foi o começo de tudo! Adoro esses dois porque foram responsáveis pelo que pensei em fazer na vida. Ou seja, qualquer coisa, a culpa é deles ".

Segundo Bongiovanni, o espetáculo que ele está trazendo foi fruto de uma pesquisa de Fomento à Dança de 2012, de São Paulo. Foram nove meses de estudo para desenvolver o trabalho e sua linguagem, que está na estrada agora via ProAC/SP (Programa de Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo) e Circuito Cultural Paulista.

"Gosto muito desse espetáculo ! Fico contente em poder mostrar meu trabalho para pessoas queridas, amigos da adolescência, família, algumas viúvas que estão no grupo de suporte que minha mãe fundou, que não viram ainda. E há essa coisa de filho da terra, que faz com que eu acalente a ideia de poder retornar depois de quase 30 anos e mostrar um pouco o que andei fazendo com a vida", ressalta o coreógrafo.

 

Entendendo o espetáculo

Bongiovanni conta que cresceu numa família enlutada e não tinha a menor ideia do que era isso. Diz não ter sofrido muito essa perda (do pai) porque era muito novo. Na verdade, ele fala que nunca teve. E nunca ter é mais fácil que perder. Muitos anos mais tarde, já na Europa, foi passar o Natal e ano novo com vários colegas ex-patriados na casa de uma amiga em Valência, que havia perdido seu pai há poucos meses. Ela queria, junto com os irmãos, fazer um Natal diferente, porque senão, seria insuportável. Lá, ele viu que a mãe dessa amiga estava lendo um livro.

"Um livro sobre esse assunto que eu peguei para folhear e tive que sair e comprar um. Ele organizou minha cabeça ao redor do assunto e ficou lá. Não percebi muito essa questão do luto até ter meus filhos. Dai, percebendo o quanto se pode amar outro ser, eu entendi o que eu não tive. Aí doeu. Doeu tanto que eu precisei compartilhar com os outros!", lamenta o artista.

Segundo Bongiovanni, em muitas casas sempre fica uma série de objetos do passado. E na sua havia muitos de seu pai. Para ele, cada objeto era uma parte de um quebra-cabeças, "memorabilia", guardadas como lembranças. De todos esses objetos, para ele, dois pareciam muito fortes e pessoais: os óculos e os sapatos ("Nossos Sapatos"). "Acho que são peças que conseguimos imaginar o dono, como naquelas séries americanas que a partir de um objeto traça um perfil. Fui fazendo isso com cada um, as informações, memórias dos outros, histórias que ouvia a respeito dele. Hoje, acho que ele deve ter sido um cara bem bacana e que teria sido muito bom ter tido a chance de conhecê-lo", destaca.

E junto a isso, Bongiovanni diz que pode parecer eufemismo. Mas a dança, dentro do contexto das artes e como ele a encara hoje, é um jeito de existir no mundo, pensar a vida. São muitos aspectos. É seu trabalho, seu sustento. "Acho que a arte, assim como a filosofia que eu resolvi estudar quando voltei ao Brasil, são formas de se pensar e refletir sobre nossa existência. É também um jeito prazeroso de manter o corpo vivo para o tempo que estiver por aqui. É uma maneira de celebração", acentua.

 

Cia de 2


De São José dos Campos, ela vem para trazer uma história, "A Nau dos Desterrados", regada a muito rum, onde os atores vivem três piratas desterrados à deriva em alto mar, um espanhol, um mouro e um hindu. Após muito tempo perdidos, eis que chegam ao novo mundo, a "terra do Cabral. Nesta peça, é recontada a invasão pirata do Rio de Janeiro em 1711, promovida pelo corsário francês René Duguay Troiun, relatada em diversos registros históricos. Na trilha sonora do espetáculo, foi inserida riffs de guitarra com grandes clássicos do rock. No elenco, estão: Fábio Damusi, Jean de Oliveira, Jonas di Paula e Renato Júnior.

 

PROGRAMAÇÃO DE SEXTA-FEIRA

Horário                Atração                Atuação                Local

20h         Espetáculo "Nossos Sapatos"         Núcleo Mercearia de Idéias             Teatro Paulo Roberto Lisboa do Centro Cultural Matarazzo

22h         Espetáculo "A Nau dos Desterrados"            Cia de 2 Boulevard Os Sombras e os Temperamentais do Centro Cultural Matarazzo

 
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