Bate-papo com o fotógrafo Adriano Kirihara

Mânia Pires

COLUNA - Mânia Pires

Data 11/08/2023
Horário 07:08
Foto: Adriano Kirihara
Adriano Kirihara participou de diversas expedições pra documentar a fauna, flora, paisagens e o modo de vida dos povos e comunidades
Adriano Kirihara participou de diversas expedições pra documentar a fauna, flora, paisagens e o modo de vida dos povos e comunidades

Adriano Kirihara é um jornalista e fotógrafo especializado em Fotografia Documental, participou de diversas expedições pra documentar a fauna, flora, paisagens e o modo de vida dos povos e comunidades. As suas fotografias já puderam ser vistas em publicações da revista de bordo da Azul Linhas Aéreas, revista Exame, Fotografe Melhor, na National Geographic Brasil, em livros didáticos das editoras FTD, Moderna Editora do Brasil, entre outras.

Quando você pensou em virar um fotógrafo profissional? Por quê?
Não teve uma data em específico, as coisas simplesmente aconteceram. Sempre encarei a fotografia com muito amor, respeito. Hoje o que diferencia um fotógrafo profissional para um expert (amador), por exemplo, é o fato de ele ganhar dinheiro com a fotografia. Pois existem por aí muitos fotógrafos bons que fotografam por hobby, pelo amor à fotografia. No meu caso, comecei também como hobby, pois estando como jornalista trabalhei em TV e sempre levei a fotografia em paralelo. Até que um dia disse que iria ganhar a vida viajando e registrando as belezas deste nosso universo: as paisagens, as pessoas, a natureza, comunidades e é isso que estou fazendo. 

Quais são os seus desafios nesta carreira profissional?
Acho que o maior desafio quando você está neste estado que chamamos de "profissional" é, mesmo trabalhando, não deixar de estudar e inovar novas técnicas e conhecimentos. O tempo se torna curto, mas devemos lembrar que sempre haverá algo novo a aprender, algo novo a explorar.

Em tempos de redes sociais, a fotografia ganhou uma importância ainda maior. Houve crescimento em profissionalizar suas fotos?
Assunto bem polêmico esse [risos]. Lógico que as redes sociais estão aí como uma grande ferramenta para a divulgação do seu trabalho, por exemplo. Mas o imediatismo acabou banalizando um pouco a imagem como um todo. As pessoas hoje fazem imagens de tudo e enviam para todos de uma forma geral como se precisasse mostrar algo para validar aquilo que estão falando, as pessoas têm necessidade de ver a imagem. Então temos que separar o joio do trigo, o que grande parte das pessoas está fazendo hoje são meras imagens, colocam filtros, mudam cores, tudo em nome de mais e mais curtidas e tudo acaba no dia seguinte. A fotografia não é isso, fazemos imagens que contam histórias, que vão ficar nos acervos como registro histórico para outras gerações. Esse é o papel da fotografia.

Como você descreve o seu estilo fotográfico?
Não sou muito de rótulos. Mas se hoje eu tivesse que definir diria que sou um fotógrafo documentarista. Nas minhas pautas estão cidades, comunidades, natureza, paisagens, animais, pessoas, personagens, tudo aquilo que eu possa contar uma história através da fotografia. 

Quais trabalhos marcaram sua carreira?
Todos! Não consigo elencar esse ou aquele, pois todos os trabalhos, sejam eles grandes ou pequenos, têm a mesma importância. Uns podem ser mais demorados e trabalhosos, mas no fim todos eles contam a sua história. Mas se é para citar alguns, tem Antártica que é um sonho que eu tinha há muito tempo, outro que recentemente fiz que também era um desejo que foi a expedição Opará que rodamos da nascente a foz do Rio São Francisco, tem também o flagrante de uma onça predando um animal no Pantanal, os trabalhos para a revista de bordo da Azul Linhas Aéreas e por aí vai. 

O que significa a fotografia para você?
A fotografia pra mim é uma forma de expressão. É uma maneira de documentar a realidade, transmitir emoções e contar histórias através de um olhar. 

Que conselho você daria pra quem pensa em seguir na carreira da fotografia?
Um conselho seria estudar, outro conselho mais estudo. Não é julgamento, mas estamos vendo o imediatismo tomar conta das pessoas. Existem vários casos de pessoas que compram uma câmera, assistem dois ou três vídeos no YouTube e se lançam fotógrafos. Esquecem que a fotografia não é só aquela imagem registrada no sensor da câmera. Antes de apertar o botão o fotógrafo que estudou irá se preocupar com a direção da luz, o horário que vai fotografar, no caso de fotógrafos de natureza a época do ano, o sentido, a direção e o contexto, isso sem falar de ângulo, composição, a lista é grande. O grande mestre e fotógrafo Ansel Adans definiu isso há muito tempo quando disse: ‘Não fazemos uma foto apenas com uma câmara, ao fotografar trazemos todos os livros que lemos, os filmes que vimos, a música que ouvimos, as pessoas que amamos’. 
Então o conselho é: primeiro estude, aprenda e depois vá para o mercado de trabalho para poder competir com quem já está no mercado. E acredite, não será fácil, pois tem muita gente boa por aí e com muito conhecimento. 

Cite alguns fotógrafos que mais te inspiram...
Eu tenho admiração por muitos fotógrafos, atuais e de outras épocas. Os mestres Sebastião Salgado, Araquém Alcantara, Ansel Adams, Henri Cartier-Bresson são referências para nós. Olhar o trabalho de outros fotógrafos é uma forma de estudo, de aprimoramento e logicamente de inspiração para desenvolver outros projetos. Poderia encher a folha com nomes e mais nomes. O que nunca podemos nos esquecer é daqueles que nos ajudaram no nosso caminhar, como o amigo Paulo Miguel, que foi um dos primeiros professores que tive na vida e que me ensinou a base da fotografia. Mas tenho admiração por tantos colegas de profissão como André Dib, Delfim Martins, Tales Azzi, Gustavo Massola, Sérgio Ranalli, enfim a lista é grande. 

Qual sua opinião sobre o uso de aplicativos e programas para retoques digitais, como o Photoshop, por exemplo?
Olha, eu acho que todas as ferramentas são bem-vidas desde que usadas com responsabilidade, ainda mais se nos ajudarem no fluxo de nosso trabalhos. 

Uma imagem pode expressar mil palavras? Cite uma?
Toda fotografia tem uma história por trás. Já que é para citar uma, gosto muito de uma imagem que fiz no sertão da Bahia de um bode olhando carnes penduradas. Estava fazendo umas fotos do povoado quando vi esse animal vindo em minha direção, me posicionei para tirar uma foto com a ele e a placa. Mas, para minha surpresa, ele parou e olhou a placa.


Pôr do Sol – Charcot Island  


Baleia Jubarte


Pinguins na Ilha Deception na Antártida 


Sertões


Lontra Albina


Pedra Furada Japalão
 

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