O Brasil caminha para uma crise fiscal grave. Essa é a avaliação do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, que alerta para a trajetória insustentável dos gastos públicos. Segundo ele, a crise não é mais uma hipótese, mas uma certeza. A dúvida é apenas quando será detonada.
Hoje, cerca de 96% do orçamento federal está comprometido com despesas obrigatórias — e o percentual tende a subir. Isso deixa quase nada para investimentos, programas estratégicos ou imprevistos. Já faltam recursos para atletas olímpicos, o seguro rural está ameaçado e o próximo Plano Safra não tem verba garantida. Até órgãos públicos podem paralisar por falta de recursos.
A situação piora com fatores externos. Em 6 de agosto, os EUA anunciaram um tarifaço de 50% sobre o aço brasileiro, atingindo em cheio um setor estratégico. O impacto pode ser profundo: queda nas exportações, corte de empregos e redução de arrecadação, o que enfraquece ainda mais as contas públicas.
Esse tipo de choque pode acionar o chamado momento Minsky, conceito do economista Hyman Minsky. Após longos períodos de aparente estabilidade, agentes públicos e privados assumem riscos excessivos. O sistema se fragiliza e qualquer gatilho pode gerar o colapso. Foi o que ocorreu em 2008 com a quebra do Lehman Brothers, que desencadeou uma crise global.
No Brasil, o gatilho pode ser político, externo ou a perda de confiança no controle fiscal. O tarifaço dos EUA é um alerta.
Para evitar o colapso, Maílson propõe três medidas urgentes. A primeira é reformar a Previdência, desvinculando o salário mínimo dos reajustes das aposentadorias, mantendo apenas a correção pela inflação. A segunda é eliminar as vinculações constitucionais de gastos mínimos com saúde e educação, dando flexibilidade ao orçamento. A terceira é reduzir os gastos da máquina pública, hoje acima da capacidade do país. Com exceção da última, são propostas impopulares, que contrariam promessas eleitorais e têm baixa chance de serem adotadas.
Nesse cenário, empresas devem se preparar com urgência. A instabilidade fiscal afeta crédito, consumo e competitividade. Antecipar-se é fundamental: fortalecer o caixa, reduzir custos, diversificar receitas e manter boas práticas administrativas em dia. A crise está no horizonte. A pergunta não é se ela virá, mas se sua empresa estará pronta quando ela chegar.