Me lembro de uma passagem na minha vida que se tornou uma divina comédia humana. Depois de alguns meses da cirurgia que fiz, colocando três pontes de safena e uma mamária, fui até meu cardiologista para um check-up. Estava tudo ótimo e perguntei a ele se poderia fazer sauna e recebi a resposta: Não gosto que um "coronariano" faça sauna. Coronariano!!! Termo esquisito.
O tempo foi passando e já estou fazendo academia. A personal vê uma cicatriz na minha perna direita e curiosa pergunta a origem dessa cicatriz. Explico a ela sobre a operação e ela com cara de espanto me diz: Você é um "safenado". Outro termo esquisito. Passado mais alguns dias, estou na loja 100% vídeo, e encontro uma amiga cardiologista que me apresenta ao seu marido, também cardiologista desta maneira: Amor, esse é o Persio, ele já é um "revascularizado", outro termo esquisito.
Batendo papo com amigos, conheci mais um termo esquisito: "Cardiopata". Me sentindo um marciano, fui conversar com meu amigo irmão, Dr. José Roberto Marcondes. Relatei os fatos a ele me sentindo um estranho no ninho com esses termos esquisitos. Ele sabiamente me aconselhou que não era para eu falar sobre o problema que tive, e sim dizer que tinha sido vítima da violência urbana. Como assim? Simples Magrão: Você se atracou com marginais, tomou um tiro na perna, uma facada no peito e mesmo assim conseguiu ferir os três bandidos, onde um morreu a caminho do hospital, as pessoas gostam de heróis.
Puxa Zé, que exagero. Quem vai acreditar nessa história? Vai por mim Magrão, você de safenado, coronariano, revascularizado e cardiopata vai passar a ser um mito, um justiceiro. Saí do consultório do Zé extremamente extasiado, entusiasmado com esse novo papel, pensando em repetir essa espetacular mentira até ela virar verdade. Afinal, ao invés de ser um cardiopata, vou me tornar um herói, um Rambo prudentino. Vejam vocês.
