Carta aos homens

OPINIÃO - Daniela Garcia Damaceno

Data 15/10/2020
Horário 04:58

Diariamente, ao assistirmos jornais ou até mesmo acessarmos as redes sociais, nos deparamos com notícias como “Homem faz namorada refém”, “Marido espanca esposa na frente dos filhos”, “Mais um caso de feminicídio em cidade do interior paulista”. Segundo o Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada de 2019, na última década observou-se o aumento de 38,1% na taxa de incidentes letais intencionais contra mulheres dentro dos domicílios. ¬¬
Nos últimos anos, muito tem se avançado em relação às conquistas das mulheres em espaços sociais, políticos e econômicos, contudo, há um longo caminho a ser percorrido. Quando falamos de violência contra as mulheres, muitas vezes, a visão paternalista e reducionista em relação à assistência, reduz o papel do Estado e da sociedade ao enfrentamento emergencial desse fenômeno, reforçando nas mulheres sentimentos de fraquezae posição de subjugação. 
Mas quando será que os homens serão incluídos nessa discussão? O que os fazem acreditar que têm direito de dominarem os corpos de suas parceiras? Quando esse comportamento inaceitável e criminoso vai acabar? Por que os homens sentem que suas companheiras são suas posses? 

Sabe-se que violência não está apenas na agressão física, verbal ou psicológica. Possui dimensões muito mais profundas...

Sabe-se que violência não está apenas na agressão física, verbal ou psicológica. Possui dimensões muito mais profundas... Ela está na forma como a sociedade se organiza atribuindo características, funções e papéis sociais ao feminino e ao masculino. Assim, no campo simbólico, homens e mulheres se interagem de modo a exercer e sofrer violências por meio de acordos inconscientes, devido à organização da sociedade em um modelo de dominação masculina. 
Para que a sociedade avance para uma melhor harmonia, em particular em ambiente sabidamente machista, o entendimento igualitário entre homens e mulheres tem que ter respaldo nas famílias onde conceitos, valores e ações possam levar a mudanças que esperamos acontecer em relação à violência contra as mulheres. 
A ressignificação dessas interações se faz, então, essencial. Repensar os papéis, os comportamentos e as características que são atribuídas a homens e mulheres se faz urgente no combate à violência e na busca pela igualdade.


 

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