Carteira de identidade

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 26/07/2020
Horário 04:30

“Você sabe com quem está falando?” explicita a “carteirada” – aquela ação de pessoa “distinta” (“de bem”) diante de determinada situação à qual se acredita imune de obrigações. Essa cultura de privilégios está saindo das trevas (da escuridão do anonimato) e vindo à luz pelas câmeras, sobretudo, de celulares. Dispensando exemplos –fartos nas últimas semanas–, as várias cenas enojam quem não se deixa contaminar pela mentalidade superior diante de outros, no exercício de tarefas ‘menores’”.

Os que veem essas cenas e desejam um melhor ambiente no país se questionam, por exemplo: 1) Sendo pai/mãe/avô/avó, quais valores ensina aos filhos/netos? 2) Sendo patrão/superior funcional, quais critérios usa no exercício da justiça e quais valores cultiva no ambiente que coordena? 3) Os freios morais se perderam de repente ou o big brother da vida real está na fase em que o participante já não se lembra mais da câmera? 4) Repugna lidar com gente que faz da função, ou de títulos, o critério número um para ser bajulado e se pretender acima da lei.

Até para não-cristãos, Jesus é exemplo por sua prática eivada de humanidade, vida, respeito, tolerância, acolhida, desejo de despertar o bem no outro, compaixão, serviço... amor. Das várias passagens da vida do Mestre de Nazaré, o gesto do lava-pés, na última ceia –quando de jarro e bacia na mão e toalha na cintura Ele se pôs a lavar os pés dos discípulos– é ensinamento universal. Disse a Pedro que para ter parte com Ele precisaria se deixar lavar os pés. Ele, chamado de Mestre e Senhor, deu o exemplo para que os discípulos façam a mesma coisa (João 13,1-17). Quem quiser ser o maior, seja o menor e o servidor de todos.

Aqui não se fala de temperamento ou de psicologia, mas de caráter pessoal. A vida virtuosa não modifica necessariamente o temperamento. Não é disso que se trata. O papa é uma instituição. Há variadas maneiras (expressões, títulos) para se referir a ele: vigário de Cristo, romano pontífice, sumo pontífice, servo dos servos de Deus, sucessor do príncipe dos Apóstolos, sumo pontífice da Igreja Universal, patriarca do Ocidente, bispo de Roma... pronominalmente tratado por “vossa santidade”. O problema não é o título ou o poder que dele decorre, mas a forma de atuá-lo.

Onde estariam as falhas que atualmente ganham destaque e sinalizam a humanidade desumana no trato com o seu igual? Esse fracasso poderia ser revertido com mais acolhida, amor, aceitação ao diferente... e menos violência nas palavras e nas ações. Na relação com o outro mais vale a carteira de identidade, aquilo que se é e não o título que se tem. Quem mais tem e mais é, mais deve servir!

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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