Cemitério Japonês: 68% dos sepultados em Machado são crianças com até 5 anos

Ao todo, foram sepultadas 784 pessoas no local, sendo a última em 1942; entre japoneses e seus descendentes enterrados, há apenas um brasileiro: Manoel

VARIEDADES - DA REDAÇÃO

Data 07/07/2022
Horário 04:56
Foto: Estêvão Salomão / Folhapress
Em 1980, cemitério e outras áreas no mesmo espaço foram tombados como Patrimônio Histórico
Em 1980, cemitério e outras áreas no mesmo espaço foram tombados como Patrimônio Histórico

A partir de trabalho de pesquisa, foram levantadas informações das pessoas sepultadas no Cemitério Japonês de Álvares Machado. "Dos 784 sepultamentos, 68% são de crianças com até 5 anos. Segundo a história narrada pelos japoneses, as primeiras famílias de imigrantes chegaram a Álvares Machado no ano de 1917. Dois anos depois, um surto de febre amarela e outras doenças mataram vários japoneses. O cemitério mais próximo ficava em Presidente Prudente, a 15 km (quilômetros) de distância. Os corpos eram levados a pé, carregados por duas pessoas. Como a quantidade de mortes aumentou, as idas para a cidade vizinha ficou inviável. Então, Naoe Ogassawara pediu a permissão para fazer um cemitério em uma área de cinco alqueires, o que foi permitido. O primeiro sepultamento foi da menina Massae Watanabe, de apenas 2 anos, no dia 19 de novembro de 1919.
Essa história é conhecida entre os descendentes de japoneses. Ao todo, foram sepultadas 784 pessoas no local. O último enterro registrado foi em 1942. Porém, pelo cemitério, é possível ver túmulos com a data de 1943.
Não foi por falta de espaço ou de demanda que não houve mais sepultamentos no local. No período da Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, um decreto do então presidente Getúlio Vargas proibiu os enterros. Não foi identificada uma data certa dessa restrição, mas foi algo que a colônia acatou.
Outro dado do estudo é de que quase 48% dos sepultamentos eram de bebês de até 1 ano, que nasceram e morreram ou já nasceram mortos. As mães tiveram de trabalhar muito na lavoura, subalimentadas, e as crianças, sem condições, nasciam e acabavam falecendo.
Em 1980, o cemitério e outras áreas no mesmo espaço, como o palco das apresentações culturais e a primeira escola fundada pelos imigrantes, foram tombados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo). O local é mantido pela Aceam (Associação Cultural, Esportiva e Agrícola Nipo-Brasileira de Álvares Machado).

Em defesa dos japoneses

Entre os japoneses e seus descendentes enterrados no local, há apenas um brasileiro: o Manoel. No registro de seu óbito, consta apenas o primeiro nome. Segundo a história, em uma noite de ano novo, ele viu que em uma casa havia uma briga. Um desconhecido invadiu uma casa onde estavam três japoneses. Eles tentaram expulsar esse homem, mas ele tinha um facão e começou a atacar. Manoel entrou em defesa deles, mas todos morreram. Por ter morrido defendendo japoneses, ele foi enterrado no local.
 

Mensagem do embaixador Hayashi Teiji
Por ocasião do Shokonsai em Álvares Machado, gostaria de expressar o meu respeito a todos os nikkeis que se estabeleceram aqui, construíram as bases da comunidade nipodescendente e apoiaram seu desenvolvimento até os dias de hoje. Quando o assentamento dos japoneses em Álvares Machado começou em 1915, houve muitos casos de malária, e muitas crianças morreram logo após o nascimento. Mesmo diante de tão grandes dificuldades, a comunidade nikkei trabalhou diligentemente e conquistou a confiança da sociedade brasileira, contribuindo significativamente para o desenvolvimento do país.
Além disso, ao divulgar a cultura e os valores japoneses na sociedade brasileira através de eventos organizados pelas Associações Nikkeis, como o Nippon Fest, muitos brasileiros desenvolveram um senso de familiaridade com o Japão, que se tornou um importante alicerce das relações de amizade entre os dois países. Gostaria de agradecer à comunidade nikkei pelo seu esforço para realizar essas atividades.
Como embaixador do Japão, gostaria de continuar a apoiar proativamente as atividades da "ponte de amizade" entre nossos dois países que é a comunidade nipo-brasileira em seu desenvolvimento futuro e para o fortalecimento das relações entre Japão e Brasil.


Hayashi Teiji, embaixador do Japão no Brasil
 

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