Censo 2022: 55,9% da população do oeste paulista se declara branca; 42,4% é parda e preta

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou recentemente os resultados do censo demográfico de 2022 em relação à população por cor ou raça. A pesquisa por cor ou raça da população brasileira funciona com base na autodeclaração de cada pessoa entrevistada no Censo e se refere à forma como cada categoria de resposta foi socialmente construída na interação social, não operando com um conceito biológico de raça. O órgão disponibiliza cinco alternativas de respostas: preta, parda, branca, amarela ou indígena. 

Nos 53 municípios que compõem a 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, cuja sede é Presidente Prudente, 55,9% dos 859.711 habitantes se declararam brancos, enquanto 42,4% das pessoas declararam ser pretas (5,66%) ou pardas (36,74%). O número de amarelos representa 2,1% da população e de indígenas é de 0,04%.

O percentual de pessoas pretas ou pardas supera o de brancos em 18 cidades da região: Euclides da Cunha Paulista; Marabá Paulista; Sandovalina; Narandiba; Pracinha; Teodoro Sampaio; Sagres; Ouro Verde; Rosana; Caiuá; Tarabai; Pauliceia; Mirante do Paranapanema; Estrela do Norte; Nantes; Flora Rica; Pacaembu e Presidente Epitácio. 

Com 7.924 habitantes, Euclides da Cunha Paulista é o município onde a maioria da população se declarou preta (7,7%) ou parda (58,3%). A cidade que possui o maior percentual de brancos é Iepê, com 68,5% das 7.619 pessoas que vivem no município. 

Em Prudente, cidade mais populosa do oeste paulista, com 225.668 habitantes, 59,3% da população se declarou branca, 31,8% parda, 6,5% preta, 2,5% amarela e 0,08% indígena. 

Olhar sociológico

Para o sociólogo Marcos Lupércio Ramos, é possível interpretar os dados do Censo 2022 relacionados à população por cor ou raça no oeste paulista com base no histórico de colonização da região a partir do início do século 20.

“Considerando que nossa região foi uma área de recebimento de imigrantes europeus - os chamados ‘colonos’ - não é de se estranhar a maioria branca. Depois deles vieram, a partir da década de 1940, muitos migrantes nordestinos, de Estados como o Ceará, Sergipe, Alagoas e Paraíba, cujas origens remontam - caso de Alagoas, por exemplo - à imigração de holandeses, daí também, a cor da pele mais clara”, observa Marcos. “Não vivenciamos o período da escravidão em si, o que resultaria em uma região de pessoas com tons de pele mais escura. A ocupação da região é bem posterior”, complementa o sociólogo. 

Pardos e negros

Em âmbito nacional, o Censo de 2022 apontou, pela primeira vez, que o número de brasileiros que se declaram pardos se tornou o maior grupo racial do país, com 45,3% da população. Um crescimento de 11,9% desde o Censo de 2010. 

Marcos Lupércio Ramos vê que a educação voltada para discussão sobre a questão racial no Brasil está surtindo efeitos, mesmo que, segundo ele, essas discussões só ocorram de maneira mais ampla durante a semana de Consciência Negra. “Um contingente maior de pessoas que, antes se consideravam brancas, passaram a assumir a cor parda, portanto, negra”. 

Para o sociólogo, a interpretação de pardo como negro remonta de uma conotação tirada da antropologia e também possui raízes na cultura estadunidense. “Nos EUA, ou se é ‘branco’, ou ‘negro’. Utilizando mais atualmente, a expressão ‘latino-americanos’ para aqueles ‘brancos’ oriundos da América Latina. Mas a utilização do termo ‘pardo’, está imbricada no conceito de ‘miscigenação’, ou seja, mistura de raças, daí o IBGE separar do ‘negro’, o pardo e o preto”, relata Marcos. 

Crítica

O sociólogo também tece uma crítica em relação aos termos utilizados pelo IBGE na divisão dos grupos raciais do país, principalmente, na questão que envolve o “negro”. Marcos Lupércio Ramos indica que a discussão racial no país seria facilitada caso fossem adicionados os termos “negro-pardo” e “negro-preto”.  

“São as duas partes da população que mais sofrem com as mazelas socioeconômicas. Ao se ‘diminuir’ ou não se entender o termo ‘negro’, cria-se mais dificuldades para o estabelecimento de políticas públicas, como, por exemplo, de diminuição da concentração de renda”, pontua o sociólogo. “De maneira singela, pôde-se criar divisões no movimento negro [pretos e pardos], dificultando a busca de melhorias nas condições de vida dessas camadas da população”, acrescenta. 

DADOS DO CENSO 2022 RELACIONADOS À COR/RAÇA NA REGIÃO

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