Lembranças do grande rádio
O rádio na cidade nasceu em simultâneo com a presença marcante do mesmo no País. A
PRI-5, a pioneira, espalhou suas ondas quando também começava a
Rádio Nacional do Rio, a que foi sístole e diástole na vida brasileira desde a segunda metade dos anos 1930 até que a televisão ganhasse técnica para superá-la e arte para copiá-la. Porque a tevê de hoje nada mais faz do que colocar imagem em tudo aquilo que o rádio, mesmo o prudentino, fazia em seus primórdios.
O rádio local tem história e como sei que o museu dedica um espaço ao mesmo pretendo constatar se disponibiliza o que embalou minhas infância e adolescência. Fazia tudo o rádio da cidade naqueles anos em que as comunicações marcavam seus passos iniciantes. Movimentados programas de auditório, cantores e músicos, orquestras e regionais; produtores e escritores; notícias pelo sistema Morse, mas em cima do fato.
Transmissões esportivas do amadorismo, e por que não dizer, também feitas com o mais puro sentido da arte amadora. Basta dizer que um dos comentaristas era o mesmo José Foz, médico cujo nome é perpetuado numa das vias principais da cidade. Houve uma época em que militou na antiga "A Voz do Sertão" uma equipe de locutores com Osmar Ribeiro, que depois foi apresentar o programa dominical do meio-dia de Francisco Alves, na
Nacional, do Rio. Nelson de Oliveira, com sua "A Galera do Nelson", depois de Prudente na
Bandeirantes de São Paulo. Mário Moraes, não o comentarista esportivo e meu colega, mas sim o marido de Virgínia de Moraes, por muitos considerada a maior locutora brasileira de todos os tempos, e também desse time que cito de memória.
E tantos outros como Nenê Rodrigues, José Nogueira e a menina de fala macia e interpretações maravilhosas, Yvette Pinheiro, que o Geraldo Soller, um dos grandes valores desse rádio hoje esquecido, considera como a maior figura feminina da sua história, heroína de novelas e comando de programas infantis. Não sou eu que o afirmo, mas concordo, assino embaixo e dou fé.
Tempos da dupla Nhô Nico e Celestino, das transmissões esportivas de Renê Tahan, tempos enfim do nosso grande rádio que num futuro próximo e num passado não muito distante seria um grande celeiro de narradores esportivos para o grande rádio do Brasil. O rádio fez aniversário e não há muito a comemorar. As redes hoje o subjugam a cada dia, principalmente, no interior e do que resta a matança fica por conta das igrejas evangélicas. Nada impede que as lembranças se eternizem na memória. Quem sabe também no museu?
Flávio Araújo é jornalista e radialista prudentino, escreve aos domingos neste espaço