Sai dessa vida, Damião
Houve um período no passado em que a malandragem contava pontos e havia uma tal de "catimba" a glorificar seus autores. Houve um jogador, Dé, então no Bangu, que atirou uma pedra de gelo na bola desviando-a dos pés do zagueiro Reyes do Flamengo. Na indecisão deste que não sabia onde a bola estava Dé já a fizera dormir nas redes rubro-negras impulsionada pelos pés do catimbeiro. O juiz era José Roberto Wright, árbitro de Copa do Mundo, e confirmou o gol. Gelo derrete-se rapidamente. É incrível, mas na época isso foi considerado um feito extraordinário do jeitinho e da malandragem brasileira.
Pelé enfiou seu antebraço no braço de Procópio do Cruzeiro e enganou o árbitro gritando que estava sendo arrastado. O juiz entrou na manha: "bota na mancha". O juiz? Armando Marques, o maior da época. Nada a ver com o coincidente choque entre esses mesmos protagonistas onde Procópio saiu com a perna quebrada e quase terminou com sua carreira.
Com os argentinos e uruguaios, então, o repertório de malfeitos era incalculável. Viladôniga, um uruguaio, foi flagrado com um apito escondido e que usava para parar o ataque do adversário. Sasía, centroavante do Peñarol e da seleção uruguaia, levava na mão fechada um bocado de areia para jogar nos olhos do goleiro adversário quando dos escanteios em favor de sua equipe.
No célebre Argentina 1 Brasil 0 na Copa de 1990, em Turim, jogo que eliminou os canarinhos, o técnico argentino Carlos Salvador Bilardo teria atirado um recipiente com água batizada ao brasileiro Branco. Este diz que ficou tonto depois de beber da mesma e o relato aqui é feito com base no depoimento do lateral brasileiro. Bilardo tem curso superior, é odontólogo.
Os lances de malandragens de Dé, Pelé e Sasía eu os vi com estes olhos... Isso tudo parecia ser coisa do passado, embora na Copa Libertadores da América seja comum ainda flagrarmos certas atitudes de puro mau-caratismo. O lance nesta semana de Leandro Damião veio nos provar que ainda vivemos na idade da pedra em matéria de educação esportiva e esse tal de "fair play" fica apenas no marketing produzido pela Fifa.
Foi o jogador de 40 milhões de reais flagrado por uma câmera de televisão puxando a própria camisa como se o adversário o estivesse fazendo quando o perseguia no jogo em que o Santos perdeu feio em Criciúma. Leandro Damião, quem diria... Tinha toda a aparência de ser um brasileiro cordial e nenhuma semelhança com o estilo rude e agressivo de Dunga. Bem, é do conhecimento de todos: as aparências enganam.
Flávio Araújo é jornalista e radialista prudentino, escreve aos domingos neste espaço