COMER MORTADELA E ARROTAR PERU

Mesmo em ocasiões em que a xepa nossa de cada dia estava ao alcance de todos, imaginei que o Brasil pudesse um dia receber uma edição dos Jogos Olímpicos. Sempre os vi como acontecimento para país rico, de primeiro mundo e embora amante nas belezas da nossa terra não esperava tanto. Depois de correr mundo ficou ainda mais difícil tal esperança. Quando se sabe a vida que é possibilitada aos trabalhadores nos países de primeiro mundo temos que recolher o rabo entre as pernas. Um que falava muito nesse tema era Wilson Fittipaldi, o velho Barão, quando nos reuníamos em agradáveis papos antes de treinos ou corridas de Fórmula 1. Ao constatar certos fatos, como a educação de um garçom ou a qualidade de uma estrada, por exemplo, o Barão sempre dizia que se fôssemos comentar que lá fora era assim seríamos chamados de uma porção de coisas e passávamos a ser patrulhados. Infelizmente educação não é para todo mundo. Muito infelizmente. As Olimpíadas ai estão e o povo brasileiro não está nem aí. Não o estou criticando por isso. Estou dizendo que não era hora de nosso país recebê-las. A situação falimentar que atravessamos com esse nível vergonhoso de desemprego, com os hospitais aparentando horrendos campos de concentração, com uma Constituição que reza sobre nossos direitos e com governantes que só se preocupam em manter seu poder, temos que concordar que não é hora de fazer Olimpíada por aqui. Nossas necessidades básicas estão muito acima da grande reunião da humanidade esportiva. Nossas escolas são um exemplo claro do muito que nos falta. Sempre escrevi que o Brasil ganharia medalhas 20 anos depois que o esporte fosse integrado ao início da vida escolar. O governo contribui com o esporte pagando os privilegiados com capacidade inata. Uma minoria. Não se pensa em "fabricar" atletas quando na verdade existe uma maioria que chegaria aos pódios se fosse treinada desde o princípio. Ver como os chineses preparam seus futuros tenistas de mesa nos dá vergonha. Patrocinar Olimpíadas? Primeiro deveríamos construir um país. O brasileiro sempre foi um entusiasta do esporte. A Copa do Mundo de futebol de número 4 no roteiro da Fifa foi um sucesso mesmo tendo que se construir o Maracanã a toque de caixa. Por muitos anos marcou recordes e mesmo com estádios humildes ficou na história. Já na Copa de 2014 as descobertas da Lava Jato aí estão para mostrar o quanto de dinheiro limpo escapou pelo ralo sujo. O que acontecerá quando forem descobertos o que se desviou desses quase R$ 40 bilhões que estão sendo gastos com as Olimpíadas?

Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.