Charanga Domingueira de 31-08-2014

Esportes - Flávio Araújo

Data 31/08/2014
Horário 08:38
 

Fique calmo, setembro está chegando

 

Como ainda estamos em agosto recordo passagens que vivi nesse período que os políticos brasileiros apelidaram como o mês das bruxas. Marcado outra vez, agora no dia 13 pela tragédia que levou Eduardo Campos. Depois do 25 de agosto de 1961, Dia do Soldado e da inesperada renúncia de Jânio Quadros, o país viveu alguns dias de pernas para o ar. Uma guerra civil estouraria a qualquer momento.

Vivi intensamente a tensão quando fui transmitir uma partida do Santos em Blumenau, jogo que esteve para ser adiado. Isto pela situação conflituosa e com as ameaças que vinham de Porto Alegre através da chamada Rede da Legalidade que proclamavam que as armas falariam seu idioma se o vice de Jânio, o gaúcho João Goulart não fosse empossado. Já deixara o rádio da cidade, mas os que aqui permaneceram hão de se lembrar do fato.

De repente notaram o sumiço do Jaca. Joaquim Nascimento foi um dos grandes radialistas da cidade, político dos mais hábeis. Acho até que se quisesse Joaquim faria chover, se é que não o fez. Fazia de tudo na Rádio Prudente. "Onde está o Jaca?" – e ninguém sabia. Eis que as ondas da Rede da Legalidade chegam por aqui e uma voz conhecida está perorando em favor da solução constitucional pregada por Brizola, governador gaúcho e cunhado de Goulart.

Assim que o movimento se anunciou, não se sabe como, Joaquim saiu da cidade e foi se unir a todos os demais que falavam do Palácio de Piratini pelas ondas da Rádio Guaíba. Como chegou lá foi um mistério que o Jaca levou para o túmulo. A outra passagem a que me remete o mês de agosto foi esse jogo do Santos em Blumenau: 8 a 0, com Pelé marcando cinco gols. O problema foi depois do jogo já que durante o mesmo anunciou-se o fechamento de fronteiras entre Estados e interdição de aeroportos.

Mauro Pinheiro estava comigo e em sua companhia apanhamos nossas maletas e saímos para a rodoviária catarinense. Conseguimos um ônibus até Jaraguá do Sul e de lá em outro, rodando por vias municipais até Curitiba. Quando ali chegamos, um táxi desembarcava um passageiro e manobrava para tentar voltar a São Paulo. Furamos bloqueios militares e amanhecemos no nosso destino.

O operador que nos acompanhava teve que recolher o material de trabalho e não pôde vir em nossa companhia e só retornou a São Paulo uns 10 dias depois. O Brasil estava fechado. Por pouco não houve uma sangrenta revolução pela atitude insana de um verdadeiro gênio temperamental que não sabia na verdade o que queria. É, pois com alegria que tomo conhecimento que setembro chega amanhã.

 

 

Flávio Araújo é jornalista e radialista prudentino, escreve aos domingos neste espaço
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