Ciclos glaciais e interglaciais

OPINIÃO - Marco Antônio Del Grande

Data 28/09/2017
Horário 11:42

As glaciações são fenômenos muito importantes na história do nosso planeta, correspondendo a períodos em que a neve e o gelo se acumularam em terras emersas e em oceanos com circulação restrita, como no caso do atual Oceano Ártico, cobrindo áreas muito vastas. Recentemente publicado na Revista Science, cientistas anunciaram que um núcleo perfurado na Antártida conseguiu gelo de 2,7 milhões de anos, uma surpreendente descoberta 1,7 milhão de anos mais antigos do que o recorde anterior. As bolhas no gelo contêm gases de efeito estufa da atmosfera da Terra de uma era mais recente, em um momento em que os ciclos de avanço e recuo glacial do planeta estavam apenas começando, potencialmente oferecendo pistas sobre o que desencadeou as eras glaciais e interglaciais.

A descoberta também aponta o caminho para encontrar gelo ainda mais antigo, porque vem de uma área de “gelo azul” amplamente ignorada, onde dinâmicas peculiares podem preservar camadas antigas. Embora as áreas de gelo azul ofereçam apenas uma visão fragmentada do passado, elas podem se transformar em locais de exploração principais para o gelo antigo, segundo Dr. Ed Brook, geoquímico na equipe de descobertas da Oregon State University em Corvallis. “Gelo com essa idade realmente faz as pessoas se interessarem”, diz ele. “Estamos apenas arranhando a superfície”.

Os núcleos de gelo da Groenlândia e da Antártica são pilares da ciência climática moderna. Tradicionalmente, os cientistas perfuram em lugares onde as camadas de gelo acumulam ano após ano, sem perturbações dos fluxos glaciais. Os registros da camada longa de locais profundos no centro da Antártica revelam como os gases de efeito estufa surgiram e se espalharam por centenas de milhares de anos. Mas, como o calor da base abaixo pode derreter o gelo mais profundo e mais antigo, a abordagem tradicional não conseguiu gelo mais velho que 800 mil anos, a partir de um núcleo perfurado no Domo C da Antártica em 2004.

Embora o sol seja considerado o motor do clima, os gases de efeito estufa tem um papel fundamental na retenção de calor oriundo da energia solar, pois são absorventes e emissores seletivos da radiação solar e da radiação terrestre e fundamentais para o equilíbrio térmico do sistema climático. Analisando as concentrações de gases de efeito estufa nos testemunhos de gelo é possível observar, segundo o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, que desde o surgimento das emissões antropogênicas – atividades humanas – a partir da Revolução Industrial a concentração de dióxido de carbono aumentou cerca de 40%, de 278 ppm (partes por milhão) em 1750 para 390,5 ppm em 2011. Durante o mesmo tempo de intervalo, o metano aumentou cerca de 150% de 722 ppb (partes por bilhão) para 1903 ppb, e o óxido nitroso cerca de 20%, de 271 ppt (partes por trilhão) para 324,2 ppt em 2011, excedendo agora o nível mais elevado, registrados em testemunhos de gelo, nos últimos 800 mil anos.

Logo, a atividade humana não é capaz de mudar o clima, mas ela é capaz de perturbar o equilíbrio do sistema climático levando a inúmeros colapsos ambientais, tais como a mudança dos padrões de chuvas, ventos e circulações dos oceanos, que acompanham o aquecimento global e podem levar à redução da produção agrícola, gera maior número de furacões, tempestades de chuva e neve fortes mais intensas, provoca a intensificação das enchentes, desertificação, bem como a elevação do nível do mar, devido à expansão térmica da água do mar e o derretimento das geleiras.

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