Coisa de Branco e Coisa de Preto

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor do vinho e contra o vinhoto

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 28/12/2021
Horário 05:30

Bomba atômica? Ah, meus caros e minhas caras: isso é coisa de branco, de cientistas brancos a serviço do mal. O pai da bomba atômica é o físico americano Julius Robert Oppenheimer, que teve a ajuda do italiano Enrico Fermi e do ilustre Albert Einstein na produção do artefato. 
"Eu me tornei a morte", disse Oppenheimer dando uma de Madalena arrependida. E pensar que ele era de esquerda. Nenhum negro participou da produção da arma mais letal, capaz de matar milhões de pessoas de uma só penada e sem pena.
E o revólver? Isso também é coisa de branco, respeitável público. O revólver foi inventado por Samuel Colt e, durante muito tempo, o revólver Colt foi um dos mais vendidos em todo o mundo (parece que era mais eficiente do que as armas da Taurus). 
Do revólver passemos para o fuzil, no caso, o AK-47, criado pelo russo Mikhail Kalashnikov. É o fuzil mais usado nas guerras atuais, onde nunca foram testados os fuzis da senhora Carrar. 
E um poderoso explosivo também é coisa de branco. É a dinamite, inventada pelo sueco Alfred Nobel, esse mesmo do prêmio Nobel. É bem verdade que bem antes os chineses inventaram a pólvora e, segundo as más línguas, depois de tal invenção acabaram-se os valentes. 
A criação da pólvora é, por uma questão de justiça, coisa de amarelo (não quero encrenca com o camarada Xi Gin Pinga, quer dizer, Xi Jinping).
E a guilhotina, que cortou a cabeça de milhares de franceses? É coisa de branco. Foi inventada pelo médico Joseph-Ignace Guillotin, que nunca experimentou seu invento em si próprio, o que  supõe que "no pescoço dos outros é refresco".  Guillotin era contra a pena de morte e justificou sua invenção alegando que a morte pela forca e pela decapitação, com machado ou espada, é desumana (pausa para rir).
Deixemos esses caras-pálidas pra lá, com suas invenções mortais, e vamos para o segundo capítulo da crônica destacando coisas de preto, ainda mais depois que um racista perguntou numa rede social se não havia cientistas pretos. 
 Se certas criações dos brancos resultam em derramamento de sangue, coube a um médico negro americano a missão de estocar sangue nos hospitais para salvar vidas.
O doutor Charles Richard Drew implantou o primeiro banco de sangue do mundo, depois de desenvolver técnicas avançadas de armazenamento de sangue. Também na área da Medicina sabem quem fez a primeira cirurgia cardíaca com peito aberto? Foi o médico negro americano Daniel Hale Williams. A cirurgia foi um sucesso.
E Daniel lembra o uísque Jack Daniel´s e querem saber quem aprimorou essa bebida? Foi o escravo Naeris Green, o verdadeiro inventor desse uísque. E a caneta-tinteiro foi inventada por William Porvis, assim como a máquina de escrever é uma criação de Lee Burridge. 
Querem saber quem inventou o semáforo - ou sinal e sinaleiro - e a primeira máscara contra gases? Tudo foi inventado por Garret Augustis Morgan e quase ninguém sabia disso, não é mesmo? 
Esta os racistas não vão suportar e cortarão os pulsos: a criação do celular tem o dedo de um negro, no caso, o americano Henry T. Sampson. Ele inventou uma tecnologia, conhecida pela sigla CELL, que, mais tarde, facilitou o surgimento do celular.
Também no segmento tecnologia registro que o nigeriano Philip Emeagewali ganhou o prêmio Nobel de Computação em 1989, além de outros prêmios. E o que inventou o americano John Lee Love, que tem nome de cantor de blues? Ora, cara-pálida, ele criou o apontador de lápis e, por falar nisso, aponto que a americana Sarah Boone inventou a tábua de passar roupa. 
Nas artes, em especial na música, tem muita coisa de preto, a começar pelo jazz, inventado há mais de cem anos por humildes apanhadores de algodão do sul dos EUA. O rock and roll, filho do boogie-woogie e neto do blues, também é uma criação dos negros, mas brancos espertalhões assumiram a paternidade e ganharam uma grana preta e de outras cores.
E o samba, o ritmo oficial do Brasil? Isso é coisa de preto, coisa branca na poesia e negra no coração, como dizia Vinicius de Morais. Ah, sim: o bolero também é coisa de preto, no caso, preto cubano. Na Argentina, negros ajudaram a criar o tango e não é exagero dizer que a música das Três Américas é essencialmente negra.
E o Pelé, o Muhammad Ali, o Magic Johnson, o Tiger Woods e o Lewis Hamilton? A arte deles, nos esportes, é coisa de preto, como também é coisa de preto a literatura de Machado de Assis, Lima Barreto e outros grandes escritores negros. 
Racismo é coisa de ignorantes. Acho que é o caso de internar essa turma na clínica do doutor Simão Bacamarte. Ou então que eles se filiem à Ku-Klux-Klan, a tal de KKK, e parem de nos encher a paciência.  
 
P.S.: Se o Oppenheimer, em vez de inventar a bomba atômica, tivesse tocado trombone na orquestra do negro Count Basie teria poupado milhares de vidas na Segunda Guerra Mundial.

DROPS

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