Com advento da industrialização, alfaiates sobrevivem de consertos

Ramo da alfaiataria encontra-se escasso, por isso os poucos profissionais que ainda atuam trabalham em lojas especializadas em moda social masculina ou em atendimentos individuais

PRUDENTE - IZABELLY FERNANDES

Data 06/09/2018
Horário 04:02
José Reis - Mesmo aposentado, José não quer parar de trabalhar como alfaiate, mas passou a somente fazer ajustes e consertos
José Reis - Mesmo aposentado, José não quer parar de trabalhar como alfaiate, mas passou a somente fazer ajustes e consertos

Considerada uma profissão quase extinta, o alfaiate dominou o cenário do vestuário masculino durante muito tempo, se tornando um dos ofícios mais antigos do mundo. Em meio a calças, paletós e ternos, surgiu o Dia do Alfaiate, que é comemorado hoje, e serve para relembrar e homenagear essa ocupação considerada uma arte, envolvida em tecidos, linhas e cortes. Não só em Presidente Prudente como no Brasil, o ramo da alfaiataria encontra-se escasso devido ao advento da industrialização e da tecnologia. Por isso, os poucos profissionais que ainda atuam no ramo, trabalham basicamente com consertos em lojas especializadas em moda social masculina ou em atendimentos individuais. 

Com 86 anos de idade e cerca de 70 anos de profissão, Sebastião Fonseca se consolidou como alfaiate ainda muito novo, confeccionando peças para pessoas importantes da cidade. Nascido e criado na área rural, de início tinha o sonho de ser mecânico, pois “desde criança tinha paixão quando via alguém consertando carros”. Certo dia, um amigo que já trabalhava com alfaiataria o convidou para ingressar na carreira e aprender sobre o ofício. “Naquela época a gente obedecia aos pais. Meu pai me deu 15 dias para tentar o sonho de ser mecânico e, se não conseguisse, deveria seguir meu amigo e aprender a ser alfaiate”, conta.  Como o seu desejo inicial acabou não dando certo, Sebastião ingressou na profissão.

Ao longo da carreira, trabalhou em ateliês, confecções e por conta própria, costurando para a sociedade prudentina e pessoas importantes da história da cidade, como os ex-prefeitos Paulo Constantino e Walter Lemes Soares. “Antigamente as pessoas eram muito exigente quanto às roupas. Eu fazia muitos ternos de linho acetinado e importado”, relata. Atuou durante muitos anos com o alfaiate Olivo Diamante, participando da fundação das extintas lojas Olinel e Olivo Confecções.  Sebastião reflete que a queda na incidência dessa profissão foi significativa devido às indústrias e com a chegada das lojas de aluguel de trajes e de roupas prontas. “Embora ainda tenham alfaiates na cidade, o serviço parou. Ninguém mais quer aprender esse ofício”, declara.

Hoje, Sebastião está aposentado, mas ainda trabalha com consertos e ajustes em peças em seu domicílio e em uma loja de aluguel de trajes sociais da cidade. “Hoje eu agradeço muito por ter me formado nesta profissão. Sou muito feliz e realizado, pois além da satisfação de trabalhar com várias pessoas, consegui criar meus cinco filhos”, conta.

Sem fim

Também alfaiate há cerca de 60 anos, José Alves Aguiar, 82 anos, declara que “ama a profissão e nunca se imaginou fazendo outra coisa”. Nascido na cidade Santos, litoral de São Paulo, começou a carreira profissional como sapateiro. No entanto, sua mãe reclamava que aquele oficio causava muita sujeita em suas roupas e o aconselhava a mudar de profissão. “Com isso, fui procurar um alfaiate que morava perto da minha casa para tentar aprender um pouco sobre aquelas técnicas e logo após fiz um curso para me capacitar um pouco mais”, explica José.

A procura de uma vida mais tranquila no interior para cuidar da esposa que estava doente, José veio morar na cidade de Santo Anastácio, com a filha e o genro. Após três anos, veio para Prudente, onde mora há 20 anos. No município, trabalhou como alfaiate em lojas especializadas em moda social masculina, auxiliando em consertos e ajustes em camisas, paletós, calças sociais e ternos.

“Quando fiz o curso de capacitação em alfaiataria, os professores já nos aconselhavam que dali a uns anos, a profissão de alfaiate artesanal iria acabar, por conta do crescimento da indústria e da tecnologia”, declara José. O aposentando conta que sempre foi alertado que o oficio acabaria, mas nunca desistiu da “arte que amava”. Em Santos, teve um ateliê onde, com auxilio de um ajudante, confeccionou muitos ternos. Hoje ele relata que optou por parar de fabricar as peças e passou a somente fazer ajustes e consertos, pois a mão de obra se tornou muito cara, além dos preços dos tecidos. “Hoje quase ninguém usa terno. Os que usam, geralmente compram em lojas com um preço bem inferior do que se fosse confeccionado artesanalmente”, declara.

Mesmo aposentado, até hoje faz serviço para estes lojas masculinas e também de maneira independente, pois não consegue ficar parado e findar a profissão “Isso aqui é a minha vida. Eu falo para minha filha que eu quero morrer e cima de uma máquina de costura”, afirma José.

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