Com início do ano letivo, segmento do transporte escolar em PP ganha fôlego novo

Longo hiato da crise sanitária e aulas remotas trouxeram diversas dificuldades aos profissionais do setor; com retomada das aulas e vacinação infantil em curso, motoristas falam em recomeço, porém alguns se mostram receosos  

PRUDENTE - CAIO GERVAZONI

Data 06/02/2022
Horário 07:50
Foto: O Imparcial
“Os pais estão naquela dúvida se as aulas vão voltar ou não”, relata Marcos Fonseca, o “Tio Marcos”, ao falar sobre o cenário do transporte escolar na região que atua em Presidente Prudente
“Os pais estão naquela dúvida se as aulas vão voltar ou não”, relata Marcos Fonseca, o “Tio Marcos”, ao falar sobre o cenário do transporte escolar na região que atua em Presidente Prudente

Nesta terça-feira, as escolas da rede estadual de ensino dão pontapé no ano letivo de 2022. Já amanhã, dia 7, será a vez do sistema municipal retomar as aulas em Presidente Prudente. Mesmo com a alta de casos de Covid-19 no município, a previsão da Seduc (Secretaria Municipal de Educação), até o momento, é de volta 100% presencial dos alunos às salas de aula. O período também é de recomeço para o segmento do transporte escolar, que sofreu com o longo hiato de instabilidade da crise sanitária gerada pela pandemia. A reportagem deste periódico conversou com os “tios e tias” do transporte escolar prudentino para compreender como está o cenário atual de adesão ao setor e também saber os meandros que cercearam a realidade destas pessoas nos últimos dois anos pandêmicos.

Solícita e com tom de voz animado ao telefone, Simone Mendes, a “Tia Simone”, trabalha com transporte de alunos há cerca de cinco anos, e mostra-se ansiosa para o início das aulas neste ano, já que em 2021, com a suspensão das aulas presenciais, precisou abdicar do ramo e trabalhar como diarista para segurar as pontas da casa. Assim como ela, os pais também estão animados e quem relata isso é a própria Simone. “Esse ano com a vacinação das crianças pequenas, os pais estão super ansiosos, a procura está boa e eles querem porque querem que os filhos voltem logo aos estudos”. Porém, a motorista pontua que o principal empecilho atual para maior adesão ao serviço é o valor da mensalidade do transporte escolar. “Só que assim... a mensalidade aumentou bastante do que era. Hoje em dia, você vê, né? No mercado a gente vai e não compra nada. Combustível caro, tudo está caro. Então isso recai sobre a mensalidade”, conta Simone. Segundo ela, o valor mensal do transporte escolar, que anos atrás flutuava entre R$ 180 e R$ 190, hoje se encontra entre R$ 230 e R$ 240. “Tem um ou outro condutor que faz mais barato por ter uma condição de vida mais estável. Eu, por exemplo, sou arrimo [provedora] de família e também como muitos amigos meus são, temos que cobrar este valor”, explica.

Vinícius Cleres Amorim, o “Tio Vinícius”, relata de forma calma que a demanda pelo transporte escolar cresceu consideravelmente se comparada ao período de retorno das aulas presenciais no sistema municipal em novembro do ano passado. “Meus clientes começaram a me procurar e confirmaram o contrato comigo novamente. Em novembro de 2021, quando as aulas voltaram, foi pouca gente comigo. As mães estavam bem receosas com o vírus, porém agora que vai voltar 100% a procura aumentou”, narra o condutor. Vinícius faz um relato do período complicado que os profissionais do setor vivenciaram durante os períodos mais agudos da pandemia em 2020 e no passado. “Cara, pensamos que [a pandemia] iria durar poucos meses, mas que nada, passou o primeiro ano, foi entrando o segundo... olha, foi duríssimo. Teve colegas nossos que tiveram que deixar o segmento, vender a van e procurar outro ramo para sobreviver”, conta o motorista.

Receoso quanto a retomada

Receio. É com certo temor que Marcos Fonseca, o “Tio Marcos”, vê o atual o momento. Ao ser questionado se a adesão ao transporte escolar nas regiões – Jardim Vale do Sol e Jardim Vila Real - em que atua aumentou, ele responde de maneira clara. “Olha, não dá para ter noção ainda porque as aulas não retornaram. Não tenho como te responder isso. Está parado. Os pais estão naquela dúvida se as aulas vão voltar ou não. Por enquanto, está totalmente parado”, expõe. Ao longo da pandemia, o condutor relata que, para lidar com as despesas, precisou vender uma das vans e comprar uma pick-up para trabalhar de maneira terceirizada em uma grande empresa do ramo de comércio online e transporte de mercadorias.

Quem também se mostra temerário quanto ao cenário atual, é Roberto Aparecido Rodrigues, o “Tio Roberto”, que ainda não consegue delinear com clareza a volta das aulas. “A preocupação nossa ainda é muito grande. Esta retomada de casos de Covid-19 gera muitas incertezas. Em número de casos, é como se estivéssemos em 2020 novamente”, pontua. Roberto atende as áreas do Conjunto Habitacional Ana Jacinta e do Jardim Vilareal e até o momento não teve novas procuras de pais para o transporte dos filhos. “Continuo com os clientes que fizeram contrato quando as aulas voltaram em 2021. As aulas ainda não voltaram e por enquanto não tive procura por novos clientes. Tem sido um período difícil”, conclui  Roberto que também cita que viu diversos antigos companheiros do segmento abandonar o ramo por dificuldades financeiras.  

 

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