O urologista prudentino Felipe de Paula alcançou um marco histórico para a medicina regional e nacional ao concluir seu doutorado no renomado A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo (SP). O estudo apresenta uma solução inédita para um dos maiores desafios da uro-oncologia: a localização de tumores renais “escondidos” (totalmente endofíticos), que não podem ser vistos ou sentidos pelo cirurgião durante procedimentos minimamente invasivos.
A técnica, batizada de “Agulhamento de Prudente”, utiliza uma lógica inspirada na mastologia para marcar o tumor com um fio guia antes da cirurgia, garantindo precisão milimétrica e a preservação total do tecido saudável do rim.
“O maior benefício é a preservação da função renal. Conseguimos retirar apenas o tumor, mantendo o máximo de tecido saudável possível e garantindo uma recuperação mais rápida e segura para o paciente”, aponta Felipe.

Foto: Cedida - Paciente passa por tomografia antes da cirurgia

Foto: Cedida - Com base em tomografia, é posicionado fio marcador no centro do tumor
A escolha do nome, “Agulhamento de Prudente”, para a técnica vai além da localização geográfica. “Prudente” remete tanto à cidade onde os primeiros casos foram realizados quanto à prudência e segurança que o método oferece. Curiosamente, a denominação une o legado de Prudente de Morais (patrono da cidade) ao de seu neto, Antônio Prudente, fundador da instituição onde o doutorado foi defendido.
“É uma técnica extremamente precisa. Já realizamos dezenas de casos com 100% de sucesso técnico. O paciente passa por uma tomografia antes da cirurgia, posicionamos um fio marcador no centro do tumor e, no centro cirúrgico, seguimos esse fio diretamente até a lesão”, explica Felipe.
Um dos pontos mais elogiados pela banca examinadora — composta por nomes de peso da urologia brasileira, como Fernando Korkes, Eliney Faria e Walter Zequi — foi o potencial de democratização da técnica.
Enquanto os métodos atuais dependem de ultrassom robótico ou laparoscópico (equipamentos caros e raros), o “Agulhamento de Prudente” utiliza materiais simples e já disponíveis na maioria dos hospitais. “A técnica pode gerar custos até 10 vezes menores que o método padrão atual, permitindo que pacientes do SUS [Sistema Único de Saúde] ou de convênios que antes perderiam o rim inteiro possam agora preservar o órgão”, destaca o médico.
O trabalho, orientado por Stênio de Cássio Zequi (uma das maiores autoridades mundiais em câncer renal), já cruza fronteiras. O método foi apresentado no Congresso Americano de Urologia (EUA) e em fóruns na Argentina e Panamá. Há agora um projeto para replicar a técnica em toda a América Latina e na Espanha através do LARCG (Grupo Latino-Americano de Câncer Renal).
A conquista do título de doutor em Ciências em Oncologia é apenas um dos passos de Felipe de Paula para transformar a região em um polo tecnológico. Entre os projetos futuros, destacam-se o CPPC (Centro Prudentino de Pesquisa Clínica), já em operação no HE (Hospital de Esperança), participando de estudos internacionais; o Hospital de Urologia, um centro dedicado exclusivamente à especialidade que será inaugurado em breve pelo grupo Suppera; e cirurgia robótica, com o empenho para trazer plataformas robóticas definitivas para a cidade, elevando o padrão de atendimento de todo o oeste paulista.

Foto: Cedida - Felipe de Paula durante defesa de tese no A.C.Camargo Cancer Center