Como surgiu o tal do ESG e porque não é somente um ideal

OPINIÃO - Fernando Batistuzo

Data 01/12/2022
Horário 04:30

Quando se fala em ESG pode parecer que se está tratando de algo restrito ao campo do idealismo, inatingível, “bonito” de apenas se debater ou até mesmo de coisa “para inglês ver”. Ocorre que muito embora o tema tenha surgido num ambiente que se possa considerar idealista, rapidamente foi incorporado e tem sido concretizado no mundo empresarial que, como sabemos, visa primordialmente o lucro. 
Então como é que o tema surgiu e chegou ao ponto que se encontra atualmente?
Ainda em 1999, o então secretário-geral da ONU (o ambiente idealista), Kofi Annan, lançou a 50 CEOs de grandes instituições financeiras (entidades que visam mais lucros que estas ... impossível) a ideia de se fimar um “Pacto Global” com princípios que dessem forma ao conceito de “cidadania corporativa”, e que fossem adotados por empresas (que visam o lucro). Chama atenção que a ideia não foi lançada ao “terceiro setor” (sem finalidade de lucro) como se poderia esperar por partir da ONU.
A exortação ao mundo corporativo se deu em virtude do então (e atual) “estado das coisas” em nível mundial, relativo, sobretudo, ao meio ambiente e a aspectos sociais, tão fortemente – e negativamente em alguns (não todos!) aspectos – atingidos pela exploração mundial e concorrencial dos recursos naturais e humanos, numa perspectiva de que se o ritmo continuasse como estava em curto período a humanidade sucumbiria.
O que parecia então somente uma “boa intenção” foi “colocado no papel” com a elaboração (pelas maiores entidades financeiras mundiais!!) em 2004 do relevante documento “Who care wins” (“Quem se importa ganha”), que no subtítulo ainda trazia “Conectando mercados financeiros para um mundo em mudança”. E foi neste documento que pela primeira vez foi cunhada a sigla ESG, presente em outro subtítulo que diz “Recomendações do setor financeiro para uma melhor integração ambiental (E), social (S) e de governança (G) em análise, gestão de ativos e corretagem de valores mobiliários”.
Pela primeira vez, portanto, entidades que tinham como maior (senão o único) objetivo o lucro, passaram a buscá-lo considerando também os impactos de suas atuações nos campos ambiental e social, e descobriram que não só conseguiriam obter lucro, como até mesmo aumentá-lo exponencialmente.
Do setor financeiro essa “nova visão” e prática se espalharam para as corporações em geral (todos os setores) e atualmente há mais de 20 mil organizações aderentes ao “Pacto Global” da ONU e, no Brasil, aproximadamente 1.400 aderentes à “Rede Brasil” do “Pacto Global”, todas elas realizando diariamente “boas práticas” em ESG, contribuindo para um desenvolvimento sustentável e, com muito lucro.
 

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