Como tolerar o intolerável?

As pessoas, muitas vezes, ficam angustiadas diante de um desconforto ocasionado por alguma perda, mudança, conflito ou algo que sai da rotina. Ao ficarem com esse mal estar, desestruturam-se, não encontrando formas de lidar com esse relativo desequilíbrio. Precisamos entender que estamos vivos, assim sendo, uma infinidade de sentimentos precipitarão em aparecer. Muitas vezes acabamos não aceitando que o outro que vive ao nosso lado esteja diferente, triste, alegre demais, angustiado ou muito quieto. Logo aparece a pergunta: “O que você tem?”, “O que fiz para você?” “Está doente?” Parece que oscilações incomodam. 
Há pessoas crentes na felicidade eterna. E passam uma vida inteira correndo atrás dela de forma obsessiva e até compulsiva. A verdadeira felicidade é aquela em que estamos entregues à experiência emocional numa vivência atual. O nascimento de um filho, dia do casamento, o sorriso de um filho aprovado no vestibular, o primeiro salário, a primeira consulta de um recém-formado, enfim, a felicidade é a entrega total de corpo e alma naquele momento. Somos intolerantes ao diferente. Definir felicidade é muito complexo. 
Quando temos um desejo, vamos à busca de sua realização. Lutamos, enfrentamos muitos obstáculos, muitas vezes envolvendo perdas nessa trajetória em direção do ganho e, quando conseguimos, ficamos felizes por um tempo. Até a próxima falta. Começa tudo de novo. Nem sempre podemos realizar todos os nossos desejos. Somos impotentes. 
Houve um filósofo chamado Goethe (1749-1832) que nos deixou assim: “Quanto mais um homem se aproxima de suas metas, tanto mais crescem as dificuldades”. Não ficamos saciados, sempre queremos mais. Outra frase dele diz assim: “Se os macacos chegassem a experimentar tédio, poderiam tornar-se gente”. São os vazios que sentimos que poderão nos levar ao pensamento. Queremos a todo o momento encontrar fórmulas mágicas para a felicidade. As drogas lícitas ou ilícitas, a compulsão alimentar, compulsão pela compra, ou outras patologias do vazio são usadas para substituir o tédio. A dor é insuportável. Queremos arrumar substitutos para ela. Não toleramos o intolerável. Nosso limiar de tolerância diminui a cada dia e explodimos com uma contrariedade ínfima e esdrúxula. Não aceitamos as frustrações. Queremos gratificações. É preciso elaborar as faltas, significar vazios, ou seja, ressignificá-los. 
A pressa aos substitutos, a fim de evitar angústia ou vazios, evitará simbolizar e tudo ficará muito indigesto. Adoecemos. Quanto mais realizamos todos os nossos desejos ou dos nossos filhos, menos chances terão em amadurecer e enfrentar o próximo problema inerente ao viver. Tudo nos falta quando faltamos a nós mesmos! “Tudo na vida é suportável, com exceção de muitos dias de felicidade contínua”. (Goethe). O homem deseja tantas coisas, e, no entanto precisa de tão pouco. Freud constata que a busca pela felicidade é uma questão essencialmente individual: “Nenhum conselho aqui é válido para todos; cada um deve buscar por si mesmo uma maneira de ser feliz” (Mal Estar na Civilização-1930). Aprender a tolerar o intolerável também é vida. Não tolerar o intolerável está fadado a permanecer infantil permanentemente no adulto.
 

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