Competência de risco

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Criança medrosa nas brincadeiras e adulto inseguro, hesitante e covarde em suas decisões e ações pessoais e profissionais. Existe relação? Em tempos de crianças superprotegidas e poupadas de toda e qualquer sorte de negativa ou frustração, podem estar se formando adultos com mínimo de autoestima, autoconfiança e coragem para riscos. Estudantes e profissionais que desistem frente ao primeiro “não” ou obstáculo e que se tornarão pais “mentores” de exemplos derrotados para seus filhos.

INFÂNCIA
A importância do brincar livre para as crianças é subestimada pelos pais e adultos, em geral. Ações simples como correr, pular, escalar, subir, descer, escorregar, rolar, girar e desequilibrar, tombar, tropeçar e cair são essenciais para o desenvolvimento físico, cognitivo e psicológico. A criança precisa experimentar e se adaptar em ambientes desafiadores, realizar ações que provocam hesitação e requerem coragem, como correr na grama, pular de pedras, descer barrancos, escalar muros, entrar no mato, subir em árvores, acender fogueira, soltar fogos etc. Ações que embutem riscos controlados, gradativos e superáveis são benéficos para o desenvolvimento pleno da criança. A infância é fase importante na preparação do indivíduo para os desafios da vida adulta.

COMPETÊNCIA DE RISCO
É a percepção individual e admissão de risco, assim como o uso de conhecimento, experiência e comprometimento com padrões, que permitem identificar e controlar em bom grau a exposição ao risco. Essa habilidade não é herdada nos genes e não pode ser ensinada/aprendida apenas na teoria pelos pais ou na escola. É uma habilidade desenvolvida e fundamental na infância, mas que também tem importância em toda a vida. 

CAMINHO COM PEDRAS
A competência de risco só pode ser adquirida com experiências, escolhas próprias, enfrentamento de desafios físicos e que despertam emoções, principalmente as negativas, como medo, raiva, nojo, tristeza, mas também surpresa. Os diversos desafios enfrentados nos aspectos físicos e emocionais condicionam para encarar a vida real com sucessos e fracassos, alegrias e vieses, as condições encontradas “fora da bolha” de superproteção dos pais. Apresentar 

ATITUDE
Gradativamente, com a evolução da idade, a criança deve ganhar liberdade e ser exposta a novos desafios, aprender a analisar o risco e a própria capacidade para enfrentar, ganhar confiança para ir além do que já domina e desenvolver novas competências. Também perceber, entender e prever atitudes que podem levar a consequências negativas, como quedas e ferimentos graves. Os limites são mais bem compreendidos, a necessidade de melhor orientação e de ajuda em algumas situações fica mais clara, ficando mais apto à autopreservação da vida. 

SEGURANÇA
Enquanto a superproteção dos pais tem embutida a transmissão de limitações e medo, ações livres de exploração, aventura e desafios promovem habilidades como autoconsciência, segurança, autoconfiança, coragem, superação de problemas, responsabilidade e resiliência, fundamentais para estudar, trabalhar, realizar objetivos e se relacionar com os demais. Aquisição de competência de risco forma adultos com mais clareza sobre o certo, errado e perigoso, que não se intimidam com “nãos” e obstáculos, cuidam de si e dos colegas com lucidez.


Competência de risco forma adultos com mais clareza sobre o certo, errado e perigoso, que não se intimidam com “nãos” e obstáculos.

 

Referências

Sapienza G, Pedromônico MRM. Risco, proteção e resiliência no desenvolvimento da criança e do adolescente. Psicol Estud. 2005; 10(2): 209-216. https://doi.org/10.1590/S1413-73722005000200007 

Urwin C. Managing risk competence. Symposium Series. 2008; 54: 1-7. https://www.icheme.org/media/9704/xx-paper-09.pdf

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