Conexões que desconectam

OPINIÃO - Marcos Akira Mizusaki

Data 28/04/2021
Horário 04:30

Em pouco mais de três décadas, a internet revolucionou a comunicação em todo mundo, com reflexos no comportamento social. Atualmente, conseguimos falar em áudio e vídeo com um ente querido em qualquer lugar do mundo, desde que estejam conectados à internet, aproximando pessoas de locais distantes. 
No entanto, o acesso elevado à internet tem provocado o inverso entre pessoas próximas, inclusive dentro da própria casa, tornando-se um vício. Pesquisas revelam que a retirada imediata do aparelho celular ou seu computador de uma pessoa que tem seu uso descontrolado, as reações foram semelhantes à abstinência de drogas por viciados. Para as pessoas que estão em desenvolvimento (crianças e adolescentes), os prejuízos emocionais têm sido maiores ainda. 
Para o desenvolvimento da personalidade de um indivíduo, é indispensável a convivência coletiva, como conversar olho no olho, trocar ideias, sentir o afeto, um abraço, praticar esportes, refeições em família, frequentar escolas, dentre outras, de modo que a interação entre pessoas não pode ser suprimida, e sim vivida.  
O período que os filhos ficam em TVs, computadores, celulares e deixam de interagir com outras pessoas, acaba prejudicando no aprendizado de convivência em grupo. A consequência é ser mais individualista, com dificuldades de interagir com as demais pessoas de sua idade. Por essa razão, a associação norte-americana de pediatria recomendou que crianças com menos de 2 anos de idade não assistam televisão e que crianças maiores não o façam por mais de duas horas por dia. 
O uso descontrolado do meio digital faz com que a pessoa viva numa bolha fictícia, desconectada do mundo real. Como se fosse artista de um filme, habitua-se com seus “amigos digitais”, direcionando-o mentalmente para uma fictícia conexão (apenas digital). A relação entre pessoas por meio digital na verdade é apenas unilateral, onde ele se torna o centro das atenções de forma imaginária por ele próprio criada. Portanto, quanto maior o uso do meio digital, mais distante a pessoa fica do mundo real, afastando-se da família, dos amigos e de outras pessoas em geral que são relevantes para o seu desenvolvimento emocional, onde acaba tendo um aprendizado distorcido de como deve ser as relações entre as pessoas. 
Na verdade, fomos programados para nos conectar nas relações interpessoais. A neurociência descobriu que o próprio desenho do cérebro o torna sociável, atraído de uma íntima conexão cérebro a cérebro sempre que interagimos com alguém. Esta conexão harmônica nos faz sentir bem, gerando o brilho da simpatia, fortalecendo os laços para ambos os interlocutores, tornando-a mais agradável, cativante e prazerosa. Aliás, até a frustração com alguém também faz parte de seu amadurecimento emocional.
Até o momento, não temos os cálculos dos prejuízos causados pela desconexão interpessoal. Contudo, não temos dúvidas que a conexão digital excessiva tem provocado uma verdadeira desconexão da vida real, tornando-se quase uma epidemia, merecendo atenção redobrada das famílias sobre eventual uso excessivo pelos filhos. 
 
 

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