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O Espadachim, um cronista a favor da quarentena e das quarentonas

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 10/06/2020
Horário 05:30

Prestes a completar 98 anos, o que significa que daqui a dois anos será um homem centenário, seu Manuelão, quando sentia uma "tonturinha", dor de barriga ou uma dorzinha no dedão do pé, não abria mão de consultar um médico para avaliar a saúde.

 Não precisava, segundo a sua cuidadora, pois isso é café pequeno, ou seja, ele tem saúde de ferro. Ou de aço, como o Clark Kent, vulgo Super-Homem. Quem é que sabe? A cuidadora deu o diagnóstico: "Pura manha. É coisa de idoso manhoso".

Todo mundo conhece seu Manuelão em Xiririca da Serra, onde o sol, de vez em quando, nasce quase retangular, o que é uma brincadeira de cronista que, na falta do que fazer, enche linguiça e outros embutidos. Quanto ao seu Manuelão, ele é de carne e osso.

O Espadachim o conhece bem e, como diria o Paulinho Gogó, é um "fato venéreo. Gente boa o seu Manuelão, que, como bom udenista, passa a maior parte do tempo falando mal do Getúlio Vargas e elogiando o Lacerda. Fazer o quê? É da natureza humana. O ser humano é um ser político, já disse alguém.

Ao longo de sua longa existência, poucas vezes foi examinado pelos médicos e, se muito, precisou ser internado duas vezes, uma delas por causa de uma cólica renal, quando sentiu mais dores do que a mãe do porco espinho na hora do parto. Ou mãe que prefere parto natural.

Se antes, ao sentir qualquer dorzinha, “queria consultar um médico", com a pandemia de Covid-19, seu Manuelão ficou "ligeiro e esperto". Aliás, mais esperto do que deputado do Centrão nos conchavos com o governo para obter vantagens. Ele mudou de ideia.

Tudo mudou. Agora, quando se queixa de algum distúrbio, a cuidadora, que é sua filha, sugere: "Então, pai, vamos pro médico". Sarcástica, ela acrescenta: "Vamos correndo!". "Não! Não! Não!", reage o idoso. Tem medo de pegar Covid-19 ao se expor. Prefere ficar em casa, onde se locomove com a ajuda de um andador e também onde recebe poucas visitas por motivos óbvios.

A esta altura do campeonato da vida, seu Manuelão está certo e faz muito bem em não se arriscar. Para quê correr riscos se há um centenário à vista?

Chegar aos 98 anos não é para qualquer um e a possibilidade de completar 100 anos também não é para qualquer um. Ou qualquer dois.

DROPS DO MILLÔR FERNANDES

(colaboração do professor Edson Meneguetti, de Atlanta (EUA)

Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.

O dinheiro não só fala como faz muita gente calar a boca.

Democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim.

Jamais diga uma mentira que não possa provar.

Esnobar é exigir café fervendo e deixar esfriar.

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