Criança que sofre abusos

O abuso sexual na criança não é um tema fácil para abordar. Envolvem múltiplas variáveis, como a idade da criança, o sexo do abusador e a natureza do abuso. Pensa-se de um modo geral que o problema está fora, bem distante e não chegará da porta para dentro. Ledo engano. Está mais próximo do que se imagina. 
O desenvolvimento psicossexual da criança é natural e inevitável. Há um grande tabu em falar sobre sexualidade e sexualidade infantil. Mas é fundamental que pais e demais instituições tenham esse conhecimento para poder cuidar melhor de suas crianças. O abusador sabe como encantar a criança pequena. O pedófilo não ignora. A criança adora carinho. E quem não gosta? A criança que sofre abusos não fala para ninguém o que está acontecendo, pois se confunde. Ela desconhece sobre o que o abusador está pedindo e sua ação frente a isso. Não avalia o certo ou errado. 
A entrega da criança é ampla. Em princípio, ela tem fé na bondade das pessoas. Um pouco maior (faixa etária), percebe que a pessoa em que confiava muda subitamente sua natureza e que traiu sua confiança. Ela fica estupefata e sua própria vulnerabilidade comum volta-se contra ela. O problema maior - temos que desmistificar - é que a criança não foge do abusador, contando tudo para alguém, para livrar-se da violência. 
Recorro aos ensinamentos do psicanalista C. Bollas (1992) que diz: “Ela malignamente é agora dependente do violador, pois com frequência não existe ninguém a quem a criança possa recorrer. A dependência da criança para com o violador pode aprofundar-se, ainda que ninguém perceba no comportamento da criança, que está cada vez mais manifestamente distante. A criança abusada se sentirá malignamente atada ao violador, o que gerará uma relação mais próxima com o próprio objeto que a traiu. O abuso sexual é um tipo de morte psíquica. Em sua vida adulta, esta criança sexualmente abusada sentirá uma dor, que será em alguns aspectos, interminável. É a morte de possibilidades de um futuro. Perde-se a fé na bondade do ser humano”.
Uma das mais importantes consequências é a incapacidade para desenvolver uma relação íntima com o outro ou com o seu mundo interno. Comportamentos, como características autísticas, frigidez, dificuldade de aproximação, persecutoriedade, timidez, déficit de aprendizagem, dificuldade para simbolização, embotamento afetivo, etc. Também alguns transtornos como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), transtorno de ansiedade generalizada, depressão, psicose, transtorno alimentar como bulimia, anorexia ou compulsão alimentar, fobias ou agorafobia, e muito mais. 
O abuso sexual é uma profunda tragédia e é um fato alarmantemente comum. Lacunas de desamparo, rejeição, desamor, vícios como alcoolismo, drogadição, inadequação de acolhimento materno, enfim, desequilíbrio familiar, criam situações propícias para o abusador aproximar de sua presa. É um alerta aos pais sobre essa realidade cruel que ameaça nossa sociedade.
 

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