Um incêndio em um prédio ocioso do Governo do Estado, frequentemente invadido por dependentes químicos e moradores de rua, trouxe à luz um tema em evidência na capital paulista, com o desabamento de um prédio ocupado no Largo do Paissandu, mas que também reverbera no interior do Estado. O país se voltou para o problema da crise habitacional que assola mais de 360 mil famílias na capital paulista. Infelizmente, em ambos os casos, já havia documentos ou procedimentos investigativos apontando para eventuais problemas futuros de segurança nos imóveis, os quais foram aparentemente ignorados pelo Poder Público.
É preciso olhar com cautela para o cenário complexo que influencia esse problema na sociedade moderna. Dignos de destaque, há dois grandes fatores que possuem relação direta com esse problema: o crescimento populacional e a migração de moradores de zona rural ou do interior para as grandes capitais, despreparadas em termos de estrutura e oferta de emprego para receber essa profusão de gente. Ao associarmos a amarga desigualdade social do país, o caríssimo custo de vida (transporte, inflação, etc) e um salário mínimo que faz jus ao nome que recebe, é explicável a razão de essa conta “não fechar”.
Há uma tendência dos governos – e de boa parcela conservadora da população - em compreender a falta de moradia como algo alheio ao Estado, uma demanda individual, em lugar de um problema social. Esse pensamento, evidentemente, sofreu mudanças significativas na última década, sobretudo em 2009 com o lançamento do programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida” que viabilizou a moradia de milhares de trabalhadores de baixa renda. Ainda assim, há anos o programa segue congelado diante da política radical de cortes no orçamento adotada desde 2015 pelo Governo Federal.
É urgente que se encontrem formas de desburocratizar o processo de cessão de prédios públicos ociosos, tornando-o eficiente. Não há lógica em manter esses locais em desuso, sem investimento, quando poderiam oferecer moradias dignas e acessíveis aos trabalhadores que não possuem condições de arcar com um aluguel caríssimo, dentro do atual preço do mercado. Só existe uma forma de alterar os rumos desse caminho: por meio de um diálogo sério, racional e diligente.