Crise pedagógica

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 09/06/2020
Horário 04:14

O mundo rola. Do início dos tempos até o século 18, ocorreram mudanças contínuas e incontáveis, mas o curioso, leitor, é que alguns valores permearam todos esses séculos com a primazia do coletivo sobre o individual, valores mais estáveis e o espírito de religiosidade. Na Grécia antiga, por exemplo, pertencer a Polis era o maior ideal desejado em que o coletivo sobrepunha-se ao individual. Entretanto, o século 18 com o Iluminismo virou tudo pelo avesso.

O chamado Século das Luzes teve grande mérito por conduzir a valorização da razão, a autonomia do indivíduo e o nascimento formal dos direitos humanos. Portanto, teria sido um imenso salto à humanidade se o Iluminismo tivesse agregado também os valores éticos comunitários.

Filho do Iluminismo, o Liberalismo econômico constitui a liberdade total do mercado, justificando que só essa liberdade pode conduzir - “a todos” - ao mais alto nível de prosperidade. O Liberalismo econômico se irradiou a todas as esferas: social, política, econômica, educacional. Esta da opressão patriarcal saltou para a liberdade sem limites, etc. Desta forma, o grande desenvolvimento científico e tecnológico, se por um lado nos trouxe longevidade e um mundo de conforto, por outro, produziu um mundo individualista, de competição desvairada, de consumismo doentio, da valorização do ter acima da dignidade. Criou-se assim, uma “doença social”, a que o mundo todo está submetido.

O inimigo invisível coronavírus “impõe uma nova realidade”, como os laços do pertencer, a visão de que ninguém é átomo isolado

E lá vêm as crises pedagógicas - sejam elas individuais ou coletivas, são “impostas” pelo cosmo para promover outro patamar de consciência. O inimigo invisível coronavírus “impõe uma nova realidade”, como os laços do pertencer, a visão de que ninguém é átomo isolado, de que o egoísmo é destrutivo, de que a liberdade individual é uma ilusão quando separada do bom senso.

“O humano” parece não sobrepor ao instinto animal neste sistema que abarca o mundo todo. Esta crise, acompanhada da quarentena e tudo mais a que ela nos submeteu, impõe reflexão e o renascer de valores humanísticos como talvez a única garantia para a continuidade da espécie humana na Terra. Parece, leitor, que mar calmo não favorece mesmo a formação de bons e competentes marinheiros.

 

 

 

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