Cultura do imediatismo traz o caos ao trânsito e reflete em mortes precoces

EDITORIAL -

Data 21/06/2017
Horário 14:17

“Salve-se quem puder, se puder!”. Esse é o lema que tem predominado nas ruas e estradas da região de Presidente Prudente dia após dia. Sair de casa e chegar ao lugar de destino ileso, ou pelo menos sem presenciar alguma “barbeiragem” ou ato de irresponsabilidade alheio é um fato raro. Você sai e não sabe se chega. Você chega e não sabe se volta. Obviamente que isso tudo poderia ser creditado unicamente à efemeridade da vida, que nos torna passageiros neste mundo. Contudo, diante do cenário caótico do trânsito, sobretudo pela inconsequência de muitos motoristas, travestidos de pilotos, a vida de muita gente tem sido abreviada.

A edição de ontem de O Imparcial trouxe dois exemplos trágicos desta esfera. Em Pacaembu, um homem de 26 anos morreu em um acidente envolvendo dois caminhões. A ocorrência relata que houve uma colisão traseira, após o primeiro veículo frear por conta de um buraco. Sem tempo para parar, o caminhão que vinha logo atrás chocou-se com o primeiro. Em outro acidente, em Presidente Epitácio, uma agente penitenciária de 28 anos morreu quando o carro em que ela dirigia atingiu um poste de iluminação na avenida da Orla Fluvial.

Dois jovens, em plena idade ativa, que tiveram a vida ceifada pelo trânsito. Os jovens, inclusive, são as maiores vítimas nas ruas e avenidas da região de Prudente. Apenas na capital da Alta Sorocabana, conforme publicado recentemente por este diário, de janeiro a abril deste ano, das 50 mortes de trânsito registradas no munícipio, segundo dados do Infosiga, nove foram de pessoas com idades entre 18 e 24 anos, o que representa 18% do montante.

E a explicação para esses números pode estar inserida nas palavras do sociólogo Renato Herbella, ouvido pela reportagem. “Os jovens, na maioria deles, têm a ilusão de vida eterna”, disse ele. Vive-se o hoje na onda do “carpe diem” – aproveite o dia – sem considerar o amanhã. Isso, fruto da cultura do imediatismo que impera na sociedade moderna, na qual as pessoas tornam-se escravas do presente imediato. A paciência é virtude rara atualmente. Não se pode esperar alguns minutos atrás de um caminhão, antes de dar de ombros e ultrapassar pela contramão em faixa contínua.

Placas que expõem os limites de velocidade são decoração, exceto quando o famigerado radar está por perto. A pressa nos faz querer tudo para o presente, mas sequer lembramos que ele existe, agora, e dependemos dele para chegar ao futuro. Ações e reações ao volante são regidas pela ansiedade. E uma somatória de pessoas imediatas em uma via faz o caos. Nem ao menos se respeita o vermelho do semáforo, quanto mais o amarelo que indica atenção. O resultado disso está nos números, nas tragédias e nas lágrimas de familiares.

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