Há uma canção chamada “Daniel na cova dos leões”, da banda que foi consagrada chamada Legião Urbana. Ela já não existe mais, o seu vocalista Renato Russo, faleceu. Fiquei intrigada com a letra ao ouvir a canção. E pensei, o que teria em comum a canção, com o capítulo escrito na Bíblia, no Antigo Testamento? Curiosa, fui ler a Bíblia.
Inicio pela letra, que diz assim: “Aquele gosto amargo do teu corpo ficou na minha boca por mais tempo. De amargo, então salgado, ficou doce. Assim que o teu cheiro forte e lento, fez casa nos meus braços e ainda leve, forte, cego e tenso, fez saber, que ainda era pouco e muito pouco... E o teu medo de ter medo de ter medo, não faz da minha força confusão, teu corpo é meu espelho e em ti navego, e eu sei que a tua correnteza não tem direção, mas tão certo quanto o erro de ser barco a motor, e insistir em usar remos, é o mal que a água faz quando se afoga e o salva-vidas não está lá, porque não vemos”.
Penso que a fé seria o ponto de intersecção entre a canção e o capítulo da Bíblia. E o mais fundamental é quando há a total falta de fé. E a falta de fé em si mesmo ou si próprio. Muitas vezes, o “salva vida” está lá, mas não “O” vemos. Resumindo, o livro de Daniel é um escrito apocalíptico. Surge no século II a.C. quando a comunidade está sendo perseguida e em crise. Antíoco IV quer impor aos judeus, com violência sua política junto com a religião e costumes gregos. Os judeus ficam, assim, ameaçados de perder sua identidade religiosa e cultural. Manter então, a identidade sociocultural, que estava ameaçada pelas idolatrias que tentavam a todo o custo deformá-la e até mesmo destruí-la, era o grande objetivo.
Como então conservar a fé, que é o cerne da identidade judaica? Naquele tempo Nabucodonosor era o rei. Era prepotente e exigia coisas além da capacidade dos homens e até dos ídolos que ele adora. Ele escolheu alguns jovens inteligentes para servir na corte do rei. Daniel, Ananias, Misael e Azarias foram os escolhidos. Nabucodonosor teve um sonho e ficou tão assustado que chegou a perder o sono. Mandou chamar os magos, astrólogos, agoureiros e adivinhos para interpretarem o sonho. Ele queria a todo custo entender o significado do sonho. Eles recusaram e disseram: Somente os deuses, que não habitam com os mortais, podem dizer isso ao rei. O rei furioso mandou matar todos os sábios da Babilônia.
Daniel indagou: Por que de um decreto tão rigoroso do rei? E Arioc contou o caso a Daniel. E Daniel mandou pedir ao rei um prazo, a fim de que pudesse dar as interpretações do sonho. Ele pediu ao Senhor, o seu Deus a graça de desvendar o sonho. E assim Arioc levou Daniel até a presença do rei, dizendo-lhe: Encontrei esse judeu exilado e que é capaz de interpretar o sonho do rei. Daniel lhe disse: Há no céu um Deus que revela os segredos. E ele revelou para mim, seu sonho: Era uma grande estátua, alta e muito brilhante. Ela estava bem à frente de Vossa Majestade e tinha aparência impressionante. A cabeça da estátua era de ouro maciço, o peito e os braços eram de prata, a barriga e as coxas eram de bronze, as canelas de ferro e os pés eram parte de ferro, parte de barro... Daniel não só reproduziu todo o seu sonho, como também o interpretou.
Nabucodonosor disse a Daniel, maravilhado: De fato, o Deus de vocês é o Deus dos deuses, o Senhor dos reis; ele revela os mistérios, pois só você foi capaz de desvendar esse segredo. Promoveu Daniel (Baltassar) para ser governador de todas as províncias da Babilônia e o chefe geral de todos os sábios do país, junto com Ananias (Sidrac), Misael (Misac) e Azarias( Abdênago). O rei mandou fazer uma estátua de ouro com 30 metros de altura por três metros de diâmetro e determinou que todos, ao ouvirem o som das cornetas, harpas e cítaras deveriam cair de joelhos e adorar a imagem. Sidrac, Misac e Abdênago não obedeceram e foram para a fornalha quente, a mando do Rei. Eles ficaram no meio das labaredas cantando hinos a Deus e louvando o Senhor e houve o milagre da salvação.
Nabucodonosor disse: Bendito seja o Deus de vocês. Nabucodonosor teve outro sonho e chamou Daniel que o interpretou. Então, Nabucodonosor transformou Daniel na autoridade máxima em todo o império. Só que a inveja cresceu aos olhos dos subalternos, que passaram a procurar uma desobediência em Daniel, com relação ao Rei para desmascará-lo, a fim de perder o poder. E Daniel desrespeitou o decreto ao rezar e louvar ajoelhado, três vezes por dia, ao seu Deus. Denunciado ao Rei, foi decidido que Daniel seria jogado na cova dos leões. Em oração e muita fé em seu Deus único, os leões tornaram-se seus amigos. Como anda a sua fé?