De Prudente para o pódio Olímpico: legado do Dr. Mateus Saito na Medicina Esportiva

Em uma entrevista exclusiva, especialista em medicina esportiva, que atuou em três Olimpíadas a convite do COB, revela bastidores de sua carreira e fala sobre a homenagem ao pai, Yukiti Saito, o “Cidadão Prudentino”

PRUDENTE - SINOMAR CALMONA

Data 29/06/2025
Horário 05:55
Foto: Sinomar Calmona
Mateus Saito, médico com experiência olímpica, fala sobre sua trajetória
Mateus Saito, médico com experiência olímpica, fala sobre sua trajetória

De volta à cidade natal para homenagear o pai, o médico com experiência olímpica fala sobre sua trajetória, a medicina esportiva e os valores que a vida ensinou.

Dr. Mateus, que satisfação recebê-lo em Presidente Prudente. Sua vinda é para a homenagem ao seu pai, Yukiti Saito, que recebeu o título de Cidadão Prudentino. É uma ocasião especial, não é?
Exatamente. Vim para prestar essa homenagem ao meu pai. Ele recebeu a placa de Cidadão Prudentino ontem [quinta-feira], então, vim junto com minha irmã para prestigiá-lo. A família toda estava reunida, quase toda. Meus filhos e minha esposa precisaram ficar em São Paulo por conta de compromissos escolares e de trabalho, mas o importante é que os três filhos e minha mãe estavam aqui para prestigiar o pai neste momento tão feliz.

Dr. Saito, poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória, desde os tempos de Prudente até hoje?
Ah, tem bastante história, hein? Nasci aqui em Presidente Prudente, morei na Vila Maristela e no Jardim Aviação, e estudei no Colégio Cristo Rei, onde fiz o que hoje é o ensino fundamental. Tenho muitas lembranças: de estudar, de ver os amigos, de almoçar mais cedo e vir aqui na oficina trazer a marmita para o meu pai. Enquanto ele almoçava, a gente brincava no meio dos carros, e depois íamos para a escola. Meu avô, o seu Kazumi, tinha uma Kombi e levava todos os netos. O ensino médio fiz no Anglo Prudentino, um colégio com professores e uma turma fantástica, onde um incentivava o outro a estudar.

O que o motivou a escolher a Medicina, e depois a Ortopedia e Traumatologia?
Primeiro a Medicina. Eu estava em dúvida entre Medicina e Administração, por causa do legado da família. Mas uma conversa com meu pai me deixou livre para escolher a profissão que eu quisesse. Lembro de uma pessoa que me ajudou muito nessa decisão, o falecido Dr. Otelo Milani Júnior, professor da Unoeste. Ele era responsável pelo laboratório de anatomia e permitia que alunos interessados frequentassem o local. Isso me ajudou muito a decidir. Já na faculdade, me interessei por esporte e atividade física. Fui membro da atlética da Medicina da USP e um dos fundadores da Liga de Medicina Esportiva. Vi que a área que mais se alinhava com a medicina esportiva era a ortopedia. Durante o estágio de ortopedia, no sexto ano, tive a certeza de que era isso que queria para a minha vida. Dentro da ortopedia, a cirurgia da mão me fascinou, mas nunca deixei a medicina esportiva de lado. As oportunidades foram surgindo.

A MEDALHA DE OURO 
DA RAFAELA SILVA
NO RIO DE JANEIRO FOI 
UM MOMENTO INESQUECÍVEL 

O senhor já esteve em três Olimpíadas e participou de diversos eventos internacionais. Qual foi a situação mais marcante que viveu em uma competição?
Olha, tem várias, mas a medalha de ouro da Rafaela Silva nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foi inesquecível. Eu era o médico da seleção e a acompanhei na preparação. Vê-la, uma atleta que veio da periferia do Rio, conquistar a medalha de ouro foi um momento muito emocionante. Mas, fora as Olimpíadas, um dos dias mais felizes foi quando o Brasil conquistou o vice-campeonato pan-americano de beisebol nos Jogos Pan-americanos de Santiago. Eu estava lá, apoiando alguns esportes, mas minha missão não era o beisebol. Mesmo assim, apoiei a equipe na preparação. Quando eles foram para a final, liguei para meu coordenador e falei: "O beisebol está na final, eu preciso ir!". Um colega me rendeu em Viña del Mar para que eu pudesse acompanhar a final. A gente participou da comemoração da medalha, e depois eu retornei. Esse foi, com certeza, o evento que mais me deixou feliz nessa carreira desportiva.

Como é a rotina de um médico atendendo atletas em uma Olimpíada?
É um sistema de plantão 24 horas por dia, sete dias por semana. Às vezes, quando se está em equipe, há folgas planejadas. Mas a rotina envolve acordar, tomar café com os atletas, acompanhar os treinos, ter uma agenda de avaliações e palestras. É um trabalho contínuo.

Quais são as lesões mais comuns nesses atletas de elite?
Depende muito do esporte. Em esportes de combate, como o judô, temos lesões de ombro, joelho, coluna e mão. Já na vela, por exemplo, é comum a dor na coluna por esforço repetitivo e as abrasões.

O senhor ainda coordena a pós-graduação em Medicina Esportiva?
Sim, sou coordenador de uma pós-graduação em Medicina Esportiva, uma iniciativa dos médicos que fundaram o Instituto Vita. Ela acontece em São Paulo, em um sistema híbrido com aulas online e encontros presenciais mensais.

Qual a maior lacuna na formação de médicos para atuar com esportistas no Brasil?
Acho que existem duas lacunas importantes. A primeira é a falta de conhecimento sobre como fazer uma reabilitação adaptada para o atleta. Muitas vezes, a primeira reação é colocar o atleta em repouso total, mas ele não precisa parar completamente. Ele pode manter o condicionamento físico enquanto protege a lesão. A segunda lacuna é a parte clínica, que precisa entender melhor as necessidades fisiológicas, de sono e alimentação desses atletas.

Quais são as principais tendências da medicina esportiva para os próximos anos?
Uma delas é a personalização do tratamento, usando o mapeamento genético para criar tratamentos e planejamentos personalizados. Outra tendência é o aumento do uso de dados e avaliações para fazer um planejamento multidisciplinar e personalizado para resultados.

NO MOMENTO, MEU PLANO É 
APOIAR A SELEÇÃO DE BEISEBOL
QUE SE CLASSIFICOU PARA O 
WORLD BASEBALL CLASSICS

Depois de Paris 2024, já tem novos planos ou desafios pela frente?
No momento, meu plano é apoiar a seleção de beisebol, que se classificou para o World Baseball Classics, a Copa do Mundo de Beisebol, que acontecerá no ano que vem. E, claro, estou sempre à disposição do Comitê Olímpico para o próximo ciclo de Los Angeles.

Para finalizar, Dr. Matheus, que valor o esporte ensinou, que o senhor leva para a vida pessoal?
É um conjunto de valores que eu chamo de "esportismo": o resultado não é imediato, ele depende de esforço e disciplina. O adversário não é seu inimigo, e é preciso ter resiliência para alcançar os objetivos. Assim como o atleta precisa treinar, na vida precisamos ter técnica, método, disciplina e um objetivo claro. Temos que entender que as pessoas ao nosso lado não são inimigas, e que o resultado é um trabalho contínuo que exige perseverança.

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