De Prudente para Saint-Tropez: o mundo da tatuagem pelos traços de Ney Vaz

Em entrevista ao repórter Sinomar, o tatuador prudentino conta como saiu da Bahia rumo à França, superou o início difícil, conquistou espaço em Saint-Tropez e há 27 anos transforma sua arte em linguagem universal

PRUDENTE - SINOMAR CALMONA

Data 16/11/2025
Horário 05:55
Foto: Sinomar Calmona
O traço que cruzou oceanos: o prudentino Ney Vaz, há 27 anos vivendo em Saint-Tropez, França, transformou sua arte em referência internacional no realismo da tatuagem — sem perder o sotaque e o carisma do interior paulista
O traço que cruzou oceanos: o prudentino Ney Vaz, há 27 anos vivendo em Saint-Tropez, França, transformou sua arte em referência internacional no realismo da tatuagem — sem perder o sotaque e o carisma do interior paulista

De Presidente Prudente para o sul da França, a trajetória de Ney Vaz é marcada por coragem, talento e persistência. O tatuador prudentino partiu quase por acaso, aceitando um convite de um cliente francês que conheceu na Bahia, e acabou construindo uma carreira sólida em Saint-Tropez, um dos destinos mais badalados da Europa. Há 27 anos vivendo na França, Ney se tornou referência no estilo realista, mantendo viva a simplicidade e o bom humor do interior paulista. Em conversa com o repórter Sinomar, ele relembra os primeiros dias de incerteza, fala sobre o mercado europeu de tatuagem, as diferenças culturais e a saudade que sente do Brasil — especialmente dos amigos e dos churrascos prudentinos.

“A ida pra França foi um acaso — e mudou minha vida”

Sinomar: Ney, como um jovem de Presidente Prudente foi parar no cenário europeu da tatuagem?

Ney Vaz: Foi totalmente sem planejamento. Eu morava em Arraial D’Ajuda, na Bahia, e conheci um francês que gostou do meu trabalho. Ele me convidou pra ir tatuar na França e eu aceitei na hora. Embarquei sem pensar duas vezes. No começo, foi bem difícil: fiquei sozinho, sem falar a língua, mas sempre aparecia alguém pra ajudar. Já são 27 anos de França — e não parei mais.

“No começo foi difícil, mas sempre tinha uma mão amiga”

Sinomar: Foi um início desafiador?

Ney: Muito. Imagine chegar num país sem conhecer ninguém... Mas logo percebi que sempre existe gente boa no caminho. As coisas ruins vinham, mas logo algo bom acontecia. Isso me manteve em pé.

“Saint-Tropez é pequena, mas o mundo inteiro passa por lá”

Sinomar: Como é trabalhar em uma cidade tão famosa como Saint-Tropez?

Ney: É uma cidade pequena, mas durante a temporada o número de pessoas multiplica. Vem gente do mundo todo. Eu fui o primeiro tatuador fixo da cidade, e aos poucos fui ganhando nome. Hoje tenho clientela fiel e muitos amigos.

“Meu estilo é o realismo — preto, sombra e emoção”

Sinomar: Existe o “estilo Ney Vaz”?

Ney: (risos) Técnica Ney, não. Mas estilo, sim. Gosto de trabalhos realistas, baseados em fotos, com preto e sombra. É o que mais me emociona. Trabalho com todos os estilos, mas o realismo é o que me representa.

Sinomar: E o gosto do público francês é diferente do brasileiro?

Ney: Muito. Lá o pessoal busca desenhos mais elaborados, refinados. Aqui, no interior, ainda tem gente pedindo os desenhos clássicos, os das antigas. Mas a tatuagem evoluiu muito no mundo todo.

“A tatuagem virou linguagem global”

Sinomar: Como você viu a arte da tatuagem evoluir nas últimas décadas?

Ney: A internet revolucionou tudo. Antes era difícil até entrar num estúdio. Hoje, qualquer ideia se espalha em segundos. A tatuagem deixou de ser tabu e virou expressão artística, reconhecida no mundo inteiro.

“Entre Prudente e a França, o que muda é o asfalto”

Sinomar: Você divide a vida entre a França e Prudente. O que sente mais falta de cada lugar?

Ney: (risos) Quando tô aqui, sinto falta do asfalto francês — porque essas valetas de Prudente testam a suspensão! E quando tô lá, sinto falta dos amigos, dos churrascos e do calor humano. A França é meu trabalho; Prudente é meu coração.

“O segredo é tratar todo mundo igual”

Sinomar: Você leva algo do jeito prudentino pro seu estúdio na França?

Ney: Sim: o jeito de atender. Eu trato todo mundo igual — do cliente que quer uma tatuagem simples ao milionário que aparece no verão. Essa simpatia, esse contato humano, é o que me diferencia lá fora.

“Quero continuar tatuando e inspirando”

Sinomar: E o futuro? Pensa em trazer parte dessa experiência pro Brasil?

Ney: Por enquanto, quero seguir tatuando, aprendendo e viajando. Mas, sim, penso em algum momento dividir minha experiência com os mais jovens. A tatuagem me deu tudo — e agora quero retribuir com arte, amizade e inspiração.

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