Desenvolvida na região, pesquisa sobre batata-doce de polpa laranja é publicada em revista internacional

Resistente a pragas, variedade produz mais que o dobro do que principal cultivar do mercado e é capaz de se adaptar às diferentes condições climáticas

REGIÃO - DA REDAÇÃO

Data 31/08/2023
Horário 17:36
Foto: Embrapa
Experimentos foram conduzidos em ambientes de cultivo e estações climáticas distintas
Experimentos foram conduzidos em ambientes de cultivo e estações climáticas distintas

A renomada revista científica internacional Scientia Horticulturae! publica artigo sobre a batata-doce de polpa laranja, que produz mais que o dobro que a principal cultivar do mercado, com bons resultados em diferentes datas e condições climáticas de plantio e resistente a pragas. A pesquisa de caráter interinstitucional e com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) foi desenvolvida junto ao Ceofop (Centro de Estudos em Olericultura e Fruticultura do Oeste Paulista) em Presidente Prudente e envolveu pesquisadores da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), IAC (Instituto Agronômico de Campinas), UFV (Universidade Federal de Viçosa) e UEL (Universidade Estadual de Londrina).

A pesquisa focou em variedades (genótipos) da batata-doce com polpa laranja levando em consideração o seu potencial de combate a deficiências nutricionais, por serem ricos em betacaroteno, o principal precursor da vitamina A. O desenvolvimento de novas variedades foi trabalhado no sentido da obtenção de qualidade superior à das já existentes no mercado, capazes de se adaptarem às diferentes condições climáticas e de atenderem às necessidades dos produtores e às exigências dos consumidores.

Esse e outros estudos foram realizados na Unoeste, em Prudente, a cidade sede do oeste paulista, região principal produtora no contexto de São Paulo, que é o segundo Estado que mais produz batata-doce no Brasil.

Mercado e segurança alimentar

O pesquisador e professor André Ricardo Zeist, que já atuou na Unoeste e está na UFSC, conta que a pesquisa em nível campo foi liderada por Bruno da Rocha Toroco sob a sua orientação na condição de bolsista de iniciação científica da Fapesp. Os experimentos em caráter de campo e relacionados ao artigo publicado foram realizados de 2019 a 2021, associados a produtores comerciais do município de Álvares Machado, na região de Prudente, porém, junto a outros estudos que exploraram 3 mil novas variedades, das quais 12 foram selecionadas com a intenção de atender às necessidades dos agricultores em relação ao mercado consumidor internacional, com o pensamento em segurança alimentar e com a preocupação em desenvolver um padrão.

Tamanho de 300 e 450 gramas e com ótima aparência visual foi o padrão buscado e encontrado em cinco das 12 variedades identificadas por códigos, por não serem registradas para serem disponibilizadas comercialmente. O que deverá ocorrer por meio da continuidade dos estudos em busca de melhorar ainda mais os parâmetros das novas variedades. Conforme Zeist, a produtividade obtida alcançou mais que o dobro da principal cultivar comercial com a mesma caraterística, que é a Beauregard, de origem norte-americana. Os experimentos foram conduzidos em ambientes de cultivo e estações climáticas distintas, a fim de verificar como as variedades se comportavam e ter melhor certeza nos resultados.

Colaborações importantes

“Uma coisa é desenvolver pesquisa na universidade, onde tudo é certinho: controle ambiental e irrigação. Na área do produtor nem sempre tem isso”, explica Zeist, para dizer da necessidade de desenvolver tecnologias que possam ser eficazes no campo. Conta que outro aspecto importante da pesquisa associada com produtores é a difusão dos estudos.

As etapas experimentais em laboratório tiveram a contribuição da UEL, liderada pelo professor Juliano Tadeu Viela de Resende, com a participação de Gabriel Francisco Paula Gomes, dentre outras colaborações classificadas como muito importantes para a execução da pesquisa que resultou no artigo. Também pela Unoeste, atuaram o professor Edgard Henrique Costa Silva, e Guilherme José Almeida Oliveira, Alberto Junior Torres Biscola e Douglas Mafra.

Pelo IAC, esteve envolvido Murilo Henrique Souza Leal; e pela UFV, André Dutra Silva Junior, egressos da Unoeste assim como Bruno Toroco, que atualmente trabalha em fazenda de pecuária e soja na região de Ourinhos, no interior paulista.

Técnico agrícola pela Escola Técnica Doutor Antônio Eufrásio de Toledo, a Etec conhecida como Colégio Agrícola de Prudente, Bruno trabalhou por quase cinco anos no Mato Grosso do Sul, na empresa brasileira de celulose Eldorado Brasil. Depois disso, resolveu cursar Agronomia na Unoeste, viajando de Bataguassu para Prudente no primeiro ano, em 2018. Ao conseguir bolsa do Prouni (Programa Universidade para Todos) em 2019, voltou a morar em Prudente, na casa de sua avó no Jardim Paulista, e encontrou tempo para a iniciação científica.

Transformação de vida

Para André Zeist, o projeto de Bruno é o maior que já orientou em recursos humanos e transformação de vida - de um aluno que se dedicou muito para superar dificuldades e que entrou uma pessoa na Unoeste e saiu outra. “Tanto é que está muito bem empregado no mercado de trabalho”, comemora e conta que seu ex-aluno e agora amigo atravessava a cidade a pé para estudar.

Bruno, por sua vez, fala com carinho e gratidão de André Zeist, comenta que Edgar Costa está dando continuidade aos estudos da batata-doce e revela seu interesse em retornar para a pós-graduação, assim que juntar dinheiro. Enquanto isso, continua fazendo experimento genético e conduzindo experimento com feijão europeu na fazenda onde trabalha.

Foto: Cedida - André Zeist, Bruno Toroco, Alberto Junior Torres Biscola e Murilo Leal, envolvidos no estudo

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