Desperdiçando energia

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Imagine que você tivesse o privilégio de poder comer em excesso e a energia química (Kcal) dos nutrientes consumida além da necessidade fosse simplesmente transformada em energia térmica (calor) e perdida no ambiente. Acredita que isso acontece?

(In)eficiência

 O metabolismo inclui processos de transformação de alguns dos nutrientes, principalmente glicose e gordura, em energia química (ATP) para o funcionamento das células e contração muscular. Esses processos podem ser anaeróbios (sem O2) e aeróbios (com O2). Em princípio pode-se imaginar que toda (100%) glicose e gordura que entram no processo são transformadas em energia química (ATP). Porém, estima-se que o aproveitamento real seja de 30-35%. A diferença é perdida na forma de calor, seu corpo aquece e você começa a transpirar. Já percebeu isso?

Tam

 No tecido adiposo marrom (TAM) foi identificada inicialmente (anos 1980) a proteína desacopladora (UCP ou termogenina) que, de certa forma, rouba a energia química e transforma em calor, porque é capaz de dissociar a conversão,que ocorre nas mitocôndrias, da energia química da glicose e gordura em energia química do ATP. Isto é, a proteína UCP torna o processo menos eficiente, desperdiçando energia química no TAM. Isso é bom ou ruim?

Músculos

 No inicio dos anos 2000, outras UCP semelhantes, então denominadas de UCP-2, UCP-3 e UCP-4 foram identificadas nos tecidos adiposo branco, muscular e nervoso, respectivamente.Os tecidos muscular e nervoso dependem bastante da energia química para produção de ATP e, em princípio, essa ineficiência provocada pela UCP-3 e UCP-4 não é vantajosa. Para o tecido adiposo branco, cuja principal função é armazenar gordura, a atividade da UCP-2 não causa prejuízos, já que as células deste tecido possuem poucas mitocôndrias e UCP-2.

Desvantagem

 O tecido muscular é o mais abundante no corpo e a atividade da UCP-3 pode ser vista por dois lados. Para quem faz exercício e depende da produção eficiente de ATP para a contração muscular vigorosa, a ineficiência do processo e a produção adicional de calor representam desvantagens para o desempenho. Não por acaso, estudos já demonstraram que atletas não têm aumento da UCP-3 com o treinamento, porém sedentários, quando iniciam o treinamento aumentam a UCP-3.

Vantagem

 Vendo por outro lado, a vantagem está no aumento do desperdício de energia na forma de calor por quem tem excesso de gordura acumulada. A ativação da UCP-2 no tecido adiposo branco e da UCP-3 nos músculos pode representar uma forma adicional de gasto de energia, pois quando o processo não é eficiente para atender à demanda de ATP, há necessidade de “queimar” mais combustíveis energéticos, inclusive gordura. Por enquanto, o melhor e mais seguro estímulo para UCP é o exercício físico.

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