Doulas inspiram confiança e segurança às mães na hora do parto

Profissionais oferecem apoio físico e emocional e compartilham sabedoria da maternidade durante gestação e puerpério; conheça as histórias de Isabela e Sandra Regina

PRUDENTE - Cassia Motta

Data 11/05/2025
Horário 06:55
Foto: Cedida
Isabela Masselli oferece suporte para mulheres na hora do parto
Isabela Masselli oferece suporte para mulheres na hora do parto

O parto é um momento inesquecível, mas muito desafiador. Ansiedade, medo e expectativa são alguns dos sentimentos que acompanham a mãe na hora de trazer o filho ao mundo. Por isso, o apoio nesse momento é indispensável. E é aí que entra o trabalho das doulas, profissionais que oferecem suporte físico, emocional e também informativo às mulheres durante a gestação, o parto e o pós-parto.

O Imparcial conversou com duas doulas – Isabela Masselli e Sandra Regina Pereira Marcílio –, que relatam suas experiências como mães que auxiliam outras mães no momento de grande ansiedade, mas de muita alegria.

Isabela Masselli tem 35 anos, dois filhos e há seis trabalha como doula. Ela diz que é comprovado cientificamente que a presença da doula diminui as taxas de cesárea, melhora a experiência do parto, reduz intervenções, entre outros benefícios. “A gente não faz procedimentos médicos e não substitui a equipe de saúde, pelo contrário, nosso papel é complementar, trazendo mais acolhimento e presença para esse momento tão transformador. A doula ajuda a mulher a entender seus direitos, a se conectar com o seu corpo, a fazer escolhas informadas e, acima de tudo, a se sentir respeitada. Estamos ali para segurar a mão, respirar juntas, aliviar as dores com técnicas naturais, proteger o ambiente e garantir que a mulher não se sinta sozinha”, diz.

Sandra Regina Pereira Marcílio tem 31 anos, é mãe de dois filhos e há dois se dedica ao trabalho de doula. “Minha maior motivação é poder ajudar as grávidas para que possam ter uma experiência diferente das minhas. E tudo começa pela informação. Uma mulher bem informada e preparada sabe lutar pelos seus direitos e desejos, sabe fazer escolhas assertivas com base em evidências científicas. É lindo ver gestantes retomando seus lugares de protagonismo em seus próprios partos”, avalia.

Como começaram

Isabela conta que o que a motivou a ser uma doula foi sua própria experiência – muito positiva – nos seus dois partos. “Eu trabalhava como engenheira de alimentos, uma mudança bem drástica. Nos meus dois partos, a figura que de fato me ajudou a parir foi a minha doula. Nela eu encontrei o conforto, a segurança e o acolhimento. Acabei me apaixonando por esse mundo e resolvi migrar de área”, relata.

Sandra diz que sempre foi uma grande entusiasta do parto normal. “Foi depois do meu segundo filho, que essa vontade de ajudar e acolher mulheres grávidas floresceu em mim. Tive dois partos normais [vaginais], um aos 17 anos e o outro aos 25. Sofri violência obstétrica, não tive direito de escolha, a decisão nenhuma, muito menos em que posição eu desejava parir. Não me deixaram ter contato pele a pele com meus bebês”, relembra.

Foto: Cedida - Sandra diz que sempre foi entusiasta do parto normal

Papel da doula

Durante o trabalho de parto, a doula permanece ao lado da mulher o tempo todo. Atua com massagens, auxilia na motivação, sugere posições e encoraja a mãe. “Enquanto os profissionais de saúde focam na parte técnica e clínica, a doula cuida do emocional, do ambiente e do bem-estar da gestante. A gente usa técnicas de alívio de dor, como massagem, posições, banhos, respiração... tudo para ajudar a mulher a lidar melhor com as contrações e com o processo do parto. No nascimento, o nosso papel é manter esse campo de calma, segurança e presença, seja num parto normal ou cesárea. A doula é, muitas vezes, o elo entre a mulher e o sistema, e isso muda tudo”, afirma Isabela.

Sandra diz que usa técnicas não farmacológicas de conforto e alívio da dor, orientando sobre posições e exercícios que facilitem a descida do bebê. “A gente proporciona um ambiente tranquilo e acolhedor para a mulher e sempre a fazendo se lembrar que o objetivo é muito maior do que as dores das contrações. Sabemos que é um momento de muitos medos, anseios e de vulnerabilidade para elas. Ter a presença da doula, que é uma profissional que já vem trabalhando com a família e criando vínculo, faz toda a diferença nesse cenário”, expõe.

Momentos marcantes

Isabela e Sandra contam que a experiência como mães influencia muito no trabalho como doula e destacam alguns momentos marcantes da profissão. “Cada parto que acompanho me atravessa de um jeito diferente. Já vi mulheres que chegaram com medo e saíram transformadas, cheias de orgulho de si mesmas. Já vivi nascimentos intensos, rápidos, longos, cesáreas necessárias, partos que mudaram planos, e todos eles me ensinam muito. Mas alguns me tocam especialmente, como quando acompanhei uma mãe solo que teve seu bebê de forma linda, cercada de apoio e coragem em um hospital público da região. Outro quando uma mulher, depois de um parto muito violento anterior, conseguiu viver uma nova experiência, dessa vez respeitosa, com autonomia”, rememora Isabela.

Isabela ressalta que, como mãe, carrega no corpo e na alma a intensidade da gestação, do parto e do puerpério. “Eu sei na pele o que é se sentir julgada, perdida, cansada, e também o que é sentir aquele amor avassalador. Isso me dá empatia, me faz olhar para cada mulher com mais escuta, mais verdade, sem fórmulas prontas”.

Para Sandra, o importante e imprescindível é ajudar sem julgar. “Ser mãe me coloca nesse lugar de ter empatia com as gravidinhas e puérperas, porque já vivenciei as mesmas dúvidas e medos. Amo ser mãe dos meus filhos. Eles me fazem ser melhor a cada dia. Essa transformação da vida de uma mulher é linda. E é isso que tento passar para as minhas gestantes. Vão ter momentos difíceis como o nascimento do bebê, a amamentação, as noites em claro, a primeira febre e vários outros... Mas tudo isso passa, e passa rápido. É preciso permitir viver cada momento com intensidade e não se cobrar tanto”, pondera.

Valorização e reconhecimento

Isabela ressalta que, por conta das redes sociais, a doula vem ganhando espaço e se tornando mais conhecida, mas a maioria das pessoas ainda não faz ideia do que é uma doula ou, às vezes, acham que é uma “parteira”. “Conforme as mulheres vão parindo e tendo experiências positivas, isso vai sendo divulgado entre elas mesmas e isso favorece a conscientização. A gente brinca que não dá para explicar direito, é só vivendo para saber”, diz.

“Estamos passando por um momento em que nós, mulheres, queremos resgatar nosso protagonismo no parto. Por anos, o parto foi um evento médico. E nós, doulas, queremos justamente isso: que as mulheres assumam seus partos, que possam ter voz ativa e ser ouvidas e respeitadas. Afinal, o parto é da mulher. Ainda há muito o que conquistarmos. Mas vejo que, cada vez mais, mulheres têm procurado pelo acompanhamento de doulas”, afirma Sandra.

A maternidade

Sobre a própria maternidade, Isabela e Sandra exalam amor depois de tantas vivências com outras mães. “Sinto-me cada vez mais abençoada pela vida dos meus filhos e por como tudo aconteceu nos meus dois partos. Todas as experiências que eu vivo com as mulheres acrescentam ainda mais no meu maternar. Volto para a casa, após todo parto, inundada pelo hormônio do amor e, mesmo de madrugada, preciso dar aquele cheirinho no cangote deles. Inclusive, morro de vontade de engravidar novamente de tanto que eu amo viver essa experiência com elas”, fala Isabela.

“Tenho dois filhos de idades bem diferentes, Breno com 14 anos e Rafael com 5. Aprendo demais com eles, cada dia é uma novidade, uma descoberta. Fico encantada com tudo que eles aprendem. Por isso, me toca muito acompanhar nascimentos de bebês, de mães, de pais, de famílias. Eu sei o quanto aquele lar será transformado com a chegada do bebê. Assim foi o meu. Por isso, gosto tanto de acolher e de poder falar: ‘Calma, está tudo bem, é só uma fase, vai passar’. Dessa forma, ajudo elas e me ajudo também”, conta Sandra.

Foto: Cedida - Isabela com os filhos

Foto: Cedida - A doula Sandra Regina com os filhos Breno e Rafael

Histórias inesquecíveis

Isabela diz que todos os partos marcam de muitas maneiras, mas ela destaca o da Juliane, a quem acompanhou em três partos. “A Ju tem três filhos, o mais velho virou um anjo ainda na barriga dela por volta de 32 semanas. Lembro como se fosse hoje, ela me ligando e dizendo o que tinha acontecido. Mesmo com a partida dele, ela desejou o parto normal, já que era o melhor para a saúde dela. Era pandemia e intercalamos [eu e o marido dela], a indução do parto [na época, a doula estava proibida nos hospitais]. Ver a força dessa mulher em passar por todo o processo e não ter o bem mais precioso no colo, o que justifica sentir toda a intensidade do parto, me inspirou muito e me ensina até hoje. O Chico nasceu, após três dias de indução. Em todos os momentos, ela jamais questionou a vontade de Deus. Pouco tempo depois, ela investigou a causa dessa perda e descobriu a trombofilia e, em seguida, engravidou do Júlio. E olha como Deus é: Júlio nasceu no mesmo dia do irmão, exatamente um ano após. E ano passado, veio o Felipe para coroar essa família linda”, recorda.

Foto: Cedida - Isabela atuando como doula no parto de Juliane

Sandra fala que todas as mulheres que acompanhou a marcaram por um motivo diferente. “É incrível lidar com histórias, personalidades, criações tão diferentes. Cada mulher com seu jeitinho único de ser. É isso que me faz ser apaixonada pela doulagem, me reinvento e personalizo o atendimento a cada nova história. Mas algo que sempre me arranca lágrimas é ver uma mãe curtindo o corpinho quentinho e molhadinho do seu bebê que acabou de nascer. Sempre penso: ‘Não me deram meus filhos assim que eles nasceram, mas estou ajudando uma mãe a guardar esse momento para o resto da vida dela’”, pontua.

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