O relógio marcava 8h20 quando pisei no consultório, pontual como um metrônomo, mas ansioso como quem espera o início de um concerto. Lá estava ela, Tatiana, a secretária que me trata com muito carinho. Ela me diz confirmando o ritual: “O Dr. Valmir já está com o Humberto, pode aguardar um pouquinho que já ele te chama". Agradeci a Tatiana pela atenção.
Ah, Dr. Valmir Macarini. Para nós, prudentinos e amigos, ele não é apenas um dentista, é uma instituição. Valmir é o homem a quem, sem titubear, chamamos de "Mãos de Fada". E essa alcunha não é uma hipérbole de afeto, mas uma tradução da sua arte. Um orgulho para nossa cidade, um profissional que leva a excelência para além das fronteiras, dando cursos em países da América do Sul. Ele é, de fato, um talento internacional.
Na juventude, Valmir foi um galã. Meu irmão Sérgio, fã incondicional, assina embaixo. O amigo que mora na eternidade, Lê o Garrote carinhosamente chamava nosso craque de "Olhos" kkkk. Eu, junto com o Dr. José Roberto Marcondes, fomos mais específicos na nossa reverência estética, apelidando-o de "Terence Stamp prudentino", numa alusão carinhosa ao ator inglês.
Mas a beleza do Valma (ou Valmir, ou Macarini) reside na multiplicidade de seus talentos. Ele era o lateral esquerdo, bom de bola, do nosso time amador do coração, o Mediterrane. Todo sábado, lá no Prudentão, a gente ia ser feliz correndo atrás da pelota. Naquele campo, a felicidade era simples e comunitária.
O Humberto Junqueira desceu, sorrindo, e logo Valmir me chamou para subir. O "Mãos de Fada" entrou em ação. Em poucos minutos, meu problema dentário estava resolvido com a leveza de quem acaricia e a precisão de quem esculpe. Parece mesmo que você nem foi ao dentista.
Feito o serviço, o artista me chama: “Magrão, vem aqui que quero te mostrar umas belas harmonias”. Entramos na sala, a porta se fechou, e o mundo lá fora se calou. Ele tirou o violão, que é do primo Célio, outro aficionado por violão. E com as cordas recém-trocadas, e a magia começou. Valmir, ou Valma, poderia ter sido um grande violonista de música clássica. Tem o talento, a sensibilidade e o rigor para tal façanha.
"Paciência, os dedos não estão aquecidos", pediu ele, a modéstia de quem sabe o que faz.
E então, os dedos, há pouco em cirurgia precisa, voaram pelo braço do instrumento, começando o “Prelúdio n.º 3” de Heitor Villa-Lobos. Que melodia lírica, que suavidade! Depois, sem medo de errar, mergulhou na complexidade da “Chacona” de Bach. Chacona, a forma de variação contínua do Barroco, importada da América Latina para a Espanha. Coisa de outro mundo, um labirinto de beleza em que só os virtuoses se atrevem.
E, sem aviso, veio o toque brasileiro: "Agnus Sei" de João Bosco e Aldir Blanc. Cada acorde tocado era uma revelação. Seus dedos pareciam uma aranha delicada andando pelo braço do violão, tecendo uma tapeçaria sonora.
Aquela manhã de consulta, que começou com a ansiedade da broca, se transformou numa manhã inesquecível, cheia de belas melodias. Um lembrete de que o talento, quando real, não se limita a um consultório ou a um campo de futebol. Com Dr. Valmir Macarini, o "Mãos de Fada", a arte está sempre a um toque de distância, seja no sorriso que ele conserta ou na música que ele nos oferece. E para nós, amigos, isso é a mais perfeita harmonia.