Educação e lusofonia VI

António Montenegro Fiúza

As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
Luís de Camões, Os Lusíadas

Luís Vaz de Camões é um dos mais conhecidos líricos da língua portuguesa, tendo escrito, no decurso do século XVI, a primeira poesia épica de Portugal, a qual retratava, de forma heroica e prodigiosa, o percurso dos navegadores lusitanos na descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Autor de sonetos, redondilhas e glosas, no estilo lírico, épico ou teatral, é conhecido como o pai da língua e da literatura portuguesa; embora tal designação seja alvo de algum debate e não pouca polêmica, por parte de vários estudiosos, é inegável o seu grande contributo para que a mesma se consolidasse.
Por todos os locais por onde a língua portuguesa passou, ela criou raízes e deu frutos, uniu-se às línguas e expressões maternas e transformou-se em variantes ricas e diversas, em manifestações culturais que moldaram e que moldam, ainda no presente, mentes e povos e que fundaram nações inteiras.
Jorge Barbosa, escritor cabo-verdiano, cantou os «rumores das coisas simples da minha terra...// Dos trapiches// quando esmagam a cana para o grogue // com os bois pacíficos a rodar, // sempre a rodar // ao som desse canto que vem dos currais // numa cadência estranha de nostalgia, // que deixa um arrepio a morrer no ar…» 
Gonçalves Dias expressou as saudades do solo brasileiro, ao exclamar e clamar: «minha terra tem palmeiras, // Onde canta o Sabiá; // As aves, que aqui gorjeiam, // Não gorjeiam como lá.// Nosso céu tem mais estrelas,// Nossas várzeas têm mais flores, // Nossos bosques têm mais vida, // Nossa vida mais amores.»
E o angolano Pepetela expressou a sua esperança, no poema “O Içar da Bandeira”.

Quando eu voltei
qualquer coisa gigantesca se movia na terra
os homens nos celeiros guardavam mais
os alunos nas escolas estudavam mais
o sol brilhava mais
e havia juventude calma nos velhos
mais do que esperança era certeza
mais do que bondade era amor.

Autores como Amílcar Cabral, Baltasar Lopes da Silva, Jorge Amado, Odete Semedo, Chico Buarque, Mia Couto e tantos outros são flor e fruto desta língua. Mais do que reino de reis e nobres, os navegadores portugueses criaram uma nação de irmandade unida pelos laços da língua portuguesa, a qual tem sido vivida e utilizada para expressar amores, dores, esperanças, tristezas, passado, presente e futuro.

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