Eletroestimulação muscular: substitui o exercício?

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Você vai à academia ou estúdio e veste uma espécie de “macaquinho” que contém vários eletrodos para liberar choquinhos em seus músculos e estimular a contração. Esse “macaquinho” fica conectado a uma fonte, por isso não é possível se distanciar muito do “seu quadrado” enquanto realiza alguns tipos de exercícios. O custo mensal aproximado é de R$ 500 para duas sessões semanais. Compensa realmente?

ELETROESTIMULAÇÃO
Não é uma novidade. Por volta de 1977, foi desenvolvida a corrente russa, como um método terapêutico de reabilitação para pacientes com limitações de movimento, que consistia na eletroestimulação (choques que simulam o estímulo do sistema nervoso) dos músculos para ganho de força. Há cerca de 20 anos têm sido realizados estudos para avaliar a eletroestimulação como opção ou complemento ao exercício físico.

TERAPIA DE REABILITAÇÃO
A eletroterapia foi concebida, sendo segura e eficiente para proporcionar estímulos semelhantes ao exercício físico quando o paciente é incapaz de realizá-lo devido à dor, imobilização, restrições na amplitude de movimento, outras disfunções do sistema neuromuscular ou em condições pós-cirúrgicas. A eletroestimulação faz com que os músculos se contraiam, proporcionando ambiente e condições que impedem a continuidade da atrofia muscular e flacidez por desuso, e também a regeneração em alguns casos, tonificação, fortalecimento e hipertrofia muscular em sessões de 20 a 45 min.

ELETROESTIMULAÇÃO EM CASA
Você gostaria de “fazer exercício” sentado em seu sofá ou deitado numa cama? Pois há muitos sedentários que são adeptos da Lei do Menor Esforço. A criação de aparelhos de eletroestimulação para usar em casa ou na academia por pessoas sem as limitações mencionadas acima, foi uma sacada da indústria. “Com esse aparelho, para usar em sua casa, você estimula, tonifica e aumenta sua musculatura corporal com o mínimo esforço físico e sem suor.”

Ganhar músculos e demais benefícios que o exercício físico proporciona é incompatível com preguiça, atalhos e métodos revolucionários

LIMITES
A eletroestimulação literalmente libera choques, com o estímulo ficando restrito ao local dos eletrodos. Caso utilize um “macacão de eletrodos” pode aumentar a musculatura estimulada. No entanto, quanto maior a frequência/intensidade dos pulsos elétricos, maior a dor/desconforto no local. A frequência não pode ser muito elevada pelo motivo que a fibra muscular tem um ciclo de despolarização (contração) e repolarização. Quando esse ciclo é muito acelerado, é interrompido e surge a fadiga. Em geral, a frequência baixa provoca estímulo de 10% do máximo de força que o músculo poderia gerar voluntariamente. O máximo que se chega com a eletroestimulação é 60% da força do músculo. Ou seja, nunca se iguala aos exercícios com sobrecarga. 

COMPARAÇÃO
Em estudo que comparou 16 sessões de eletroestimulação com o exercício normal, o ganho com o movimento foi bastante superior. Com a eletroestimulação o ganho foi quase nulo. Outro estudo demonstrou que a associação da eletroestimulação com o exercício normal pode proporcionar hipertrofia e ganho de força de até 30% e em tempo menor, que o exercício normal apenas com movimento. Porém, os estudos são realizados em períodos de até oito semanas, tempo relativamente curto.

RESULTADOS EFETIVOS
Ganhar músculos e todos os demais benefícios que o exercício físico proporciona é incompatível com preguiça, atalhos e métodos revolucionários. O tônus, a hipertrofia, o aumento da resistência muscular, da aptidão aeróbica, benefícios para os demais sistemas fisiológicos, prevenção de doenças etc, são obtidos com disposição para treinamento regular e progressão das cargas. Procure por uma academia ou personal trainer que tenha um bom programa de treinamento e avaliação do condicionamento físico. Isso que realmente importa.

Referências

Herzig D, Maffiuletti NA, Eser P. The application of neuromuscular electrical stimulation training in various non-neurologic patient populations: a narrative review. PMR. 2015; 7(11): 1167-1178. http://dx.doi.org/10.1016/j.pmrj.2015.03.022 

Lima EPF, Rodrigues GBO. A estimulação russa no fortalecimento da musculatura abdominal. Arquivo Brasileiro de Cirurgia Digestiva. 2012; 25(2): 125-128

Pereira KE, Pereira KL, Stachelski RA, ..., Flor Bertolini GR. KiloHertz currents on aspects of muscle function: A scoping review. J Bodyw Mov Ther. 2022; 32: 110-119. http://dx.doi.org/10.1016/j.jbmt.2022.05.015 

Pernambuco AP, Carvalho NM, Santos AH. A eletroestimulação pode ser considerada uma ferramenta válida para desenvolver hipertrofia muscular? Fisioter Mov. 2013; 26(1): 123–31. https://doi.org/10.1590/S0103-51502013000100014 

Santos F, Rodrigues R, Trindade-Filho E. Exercício físico versus programa de exercício pela eletroestimulação com aparelhos de uso doméstico. Rev Saúde Pública. 2008; 42(1): 117–22. https://doi.org/10.1590/S0034-89102008000100015 

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