“Não podemos controlar tudo que acontece em nossas vidas, mas podemos controlar como respondemos a tudo. Na resposta está o maior poder”. Com esta frase de Buda, o jornalista e fotógrafo, de Álvares Machado, Estevão Pinheiro Salomão, 26 anos, exemplifica aquilo que tem aprendido e exercitado durante a quarentena, a externalização dos sentimentos com a arte, a fotografia, e a percepção das coisas mais simples da vida.
“O ser humano, ao longo do tempo, perdeu a curiosidade pelas coisas simples, aquilo que fazia parte da essência do homem... uma sombra, algo que se move, o verde da árvore, uma planta seca”. O fotógrafo, que, durante a pandemia da Covid-19, tem passado mais tempo entre as paredes do lar e em ócio, percebeu que em sua residência, sem que nunca tivesse notado, há beleza e a natureza se faz frondosa nos pequenos detalhes.
“Uma autocrítica”, propõe Estevão. “Estamos muito tempo em um local, mas observamos muito pouco, e a fotografia pode resgatar nossa visão primitiva”, acredita. Portanto, estes detalhes que por muito tempo passaram por ele tornaram-se lindas fotografias, que provam que há beleza na simplicidade. “Muita coisa sempre esteve aqui, quem não estava aqui, na verdade, era eu”, conclui.
Baseando-se na própria experiência, o jornalista direciona um convite a todos que provam da angústia de ficarem “presos” em casa. “Quando tudo para, a sensação que temos é que não podemos parar, como se estivéssemos perdendo tempo”, pontua. Na verdade, este tempo, ele crê, pode ser essencial para o exercício do autoconhecimento, e entre as coisas que podemos descobrir em nós mesmo é o olhar fotográfico.
Estevão, como fotógrafo, atualmente atuante no Sesc Thermas de Presidente Prudente, possui equipamento profissional. Na realidade, desde a época de faculdade já adquirira sua câmera, visto que se inclinou ao fotojornalismo. Ainda assim, ele não tem dúvidas ao dizer que muito mais importante que o equipamento, para a descoberta dos detalhes singelos de seu lar, é o próprio olhar.
“ESTAMOS MUITO TEMPO EM UM LOCAL, MAS OBSERVAMOS MUITO POUCO, E A FOTOGRAFIA PODE RESGATAR NOSSA VISÃO PRIMITIVA”
Estevão Pinheiro Salomão
“Esse olhar é tão nosso, tão subjetivo”, ressalta. Àquele que quer distrair-se dos sentimentos ruins do momento difícil que o mundo todo enfrenta e ao mesmo tempo deseja essa experiência de autocrítica e autoconhecimento, basta os olhos e um aparelho celular. A simplicidade é bela por si só, basta encontrá-la.
Estevão adianta um passo precioso para a produção de uma boa foto, primeiro observe o seu redor e faça uma fotografia mental, imagine a imagem, o quadro que quer registrar. O fotógrafo certifica que independentemente de onde viva, imagens não vão lhe faltar: “fotografe a família, o animal de estimação, as plantas do jardim, o céu...”.
Ele, que já realizou trabalhos fotojornalísticos para veículos de abrangência nacional, como a Folha de São Paulo, afirma que não é preciso ir longe, para as grandes cidades, para encontrar a beleza. Ele provou com as fotografias que fez, que o belo está, também, entre muros e portões.
Fotos – Cedidas/Estevão Salomão
Cena cotidiana e cheia de beleza: a torneira do tanque goteja lentamente
Das partes do corpo dos seres vivos, os olhos são uma das que mais expressam sentimentos
A exemplo dos clássicos quadros de natureza morta, a plantinha que secou
Detalhes fazem a diferença: na foto, o close de um livro torna-se uma imagem impactante
Com cores diversas, a natureza sempre oferece boas cenas aos fotógrafos enclausurados
Sombras formam padrões diferentes ao longo do dia, a depender da posição do sol
Um olhar treinado encontra cenas em ângulos diferentes, como este pássaro nas frestas do portão
Um final de tarde alaranjado que não perde em nada para as mais belas pinturas
