Em quem você confia?

Roberto Mancuzo

COLUNA - Roberto Mancuzo

Data 12/09/2023
Horário 06:02

No começo do mundo havia Adão e Eva e foi com eles que se inaugurou uma das mais perversas sensações humanas: a desconfiança. 
E olha que eles não traíram qualquer um não. Foi com Deus que brincaram e se já de cara nossa história começa assim, imagine o que poderia vir depois?
Não é à toa que vivemos cercados por desconfianças e dos dois lados: não confiamos muito e somos o tempo todo colocados à prova. Viver assim não é bom, porque por mais honestos que sejamos, a gente começa mesmo até a acreditar que somos culpados. Um tormento. Quer ver alguns exemplos?
Você não fica incomodado quando paga uma conta no supermercado com uma nota alta, de R$ 50 ou R$ 100, e o caixa faz todo ritual para esfregar na cara que não confia nem um pouco em ti? Ele risca o papel, coloca contra a luz, esfrega mão, assopra, coloca perto do ouvido como ela fosse sussurrar: “Sou falsa!!!”. Depois, nem olha direito e sequer pede desculpa pela desconfiança, que acabou de ser naturalizada bem à sua frente.
E quando faz alguma prova na escola? Meus alunos na universidade que o digam porque antes mesmo de entregar o teste eu, como professor, rezo uma cartilha sobre os efeitos nefastos da cola. É tipo assim: se colar, não é que vai tirar zero, você vai é para o inferno mesmo e até aquela pessoa que estudou bem e se preparou para valer fica paralisada tamanha pressão. Ela nem olha para os lados, com medo de ser flagrada, e pior, por algo que nem cometeu!
E quem já fez uma viagem internacional sabe o que é a desconfiança ao ter que enfrentar o calvário do portão de embarque. Entrar no aeroporto já é ganhar de cara uma sensação de que você é observado e se der mole, vai rodar. É bilhete checado, mala pesada e passada no raio-X, busca pessoal e física, tira cinto, celular, moedas, sapato, escapulário, põe tudo de novo no raio-X, e de quebra ainda tem aquela olhada sinistra do cara da Federal: olha para o passaporte, depois para seu rosto, depois passaporte, não fala nada, põe na máquina, olha de novo para seus rosto, que a esta hora está desconfigurado e com a mente imaginando como é viver em uma cela mesmo sendo inocente, até de repente ele entregar o documento e só dar uma jogada de cabeça para lado, tipo: “Vai”. Ah, como diz o Cebolinha: Minha Nossa Senhora do Chá de Camomila! Para quê tudo isso?
Enfim, poderia passar horas escrevendo exemplos aqui e você talvez iria concordar com todos eles como quando vai vender um carro ou tirar um empréstimo no banco e vai perceber que vão pagar menos do que o bem vale e você terá juros altíssimos porque não confiam mais em bons pagadores.
Bem, dá para escapar dessa condição ou a crônica vai terminar pessimista mesmo? Eu penso que sim, podemos mudar o que está a nossa volta, cuidando mais dos valores que passamos para frente e tendo um pouco mais de fé nas pessoas. Não é fácil, mas se não quer sofrer desconfianças, aprenda a confiar mais. Não a ser um bobo, mas a compreender que o ser humano nasceu bom por natureza e não vai ser um pecado original que irá nos tirar esta crença. Confie!
 

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