Encontros

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 22/07/2025
Horário 06:00

Ela corria de um lado para o outro. Parecia apavorada, mas sabia bem o que fazer. Perguntava sempre em alto e bom som: “Tá comendo bem, filho?” E saía. E voltava com uma jarra de suco na mão. O restaurante dela estava cheio de estudantes e talvez nunca tenha ficado assim. O que será que Zenilda pensou quando foi dormir naquela noite? Fez um bom serviço? Ia voltar? Sim, iam. O pessoal só ia embora bem depois. 

Foi o meu primeiro encontro em uma jornada de dez dias por terras paranaenses – 14 cidades ao todo, em um trabalho jornalístico voluntário, mas especialmente acadêmico, chamado Operação Rondon. 

Logo ali perto, seo Francisco me parou quando ia entrar no carro. “Fio, cadê aquela menina vestida com esta jaqueta que ce tá aí?” Difícil, hein? Só ali naquela cidade eram mais de 30. “Ela me pediu uns raminhos de erva para um trabalho que ia fazer na escola.” Custei, mas depois entendi que a estudante ia ensinar as pessoas a fazer um escalda-pés e pediu a ele as ervas. Bonitinho o seo Francisco. Ele se esforçou muito e estava com um punhado de alecrim e sálvia nas mãos, chinelo de dedo surrado, calça pior ainda e camisa esgarçada. “Seo Francisco, entra aí no carro que eu te levo na escola onde elas estão.” E ele chegou lá, cumpriu sua missão e eu o deixei perto de uma estrada rural porque disse que ia trabalhar. 

Isso que seo Francisco fez chama-se: ajudar os outros sem nenhum tipo de condição. Ajudar porque é da nossa natureza, entende? Aliás, quem entende bem disso é o professor de engenharia que encontrei dentro da minha equipe de trabalho. Todo dia, um aprendizado. São mais de 15 anos na estrada, sempre que pode, colocando a vocação a serviço da população. Pagam por isso? Não, claro que não. Mas recebe? Óbvio que sim. Afinal, para que passar por este mundo olhando apenas para o próprio mundinho? Só de amigos e amigas que fez e de vidas que impactou, nada mais faz tanto sentido.

E assim como eles, eu fui encontrando gente e gente é a coisa mais maravilhosa deste mundo. Teve o moleque que veio falar que a avó o mandou aproveitar tudo que podia; a menina que queria saber mais sobre os animais; a aposentada que se assustou com a pressão alta, mas ia se cuidar a partir de agora, a estudante de Farmácia que não tirava o sorriso do rosto quando percebia que alguém ia falar ou precisar dela.
 
Enfim, eu podia até dizer que estou bem cansado, mas na verdade estou mesmo é com saudade de cada encontro desse. Porque encontro, só é bom mesmo se deixa a gente com gostinho de quero mais. Alguns filósofos dizem que isso é o que se chama “Felicidade”. É um momento da vida que você não quer que acabe porque de alguma forma, enquanto tudo durou, você foi muito, muito feliz.

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