Enfermagem: mãos que aplicam doses de esperança

Profissionais da área relatam emoção e satisfação a cada paciente vacinado contra a Covid-19

PRUDENTE - ROBERTO KAWASAKI

Data 15/08/2021
Horário 07:45
Foto: Roberto Kawasaki
Hellen perdeu o pai, mas teve a chance de vacinar a mãe
Hellen perdeu o pai, mas teve a chance de vacinar a mãe

Desde o começo da pandemia da Covid-19, profissionais da enfermagem sempre estiveram na linha de frente, onde viveram o medo e a insegurança de uma doença até então desconhecida. Durante os quase dez meses no aguardo da aprovação da vacina, foram muitas as situações que colocaram em risco a vida dos profissionais e dos próprios familiares, que estiveram vulneráveis a uma possível contaminação. Mas, agora, responsáveis pela aplicação das doses, realmente entendem que todo o esforço valeu a pena.

“A aplicação da vacina foi um momento muito esperado, nos emocionamos juntos. Já perdi a conta de quantas vezes me emocionei com várias pessoas que nos procuram para se vacinar. Cada um tem a sua história, muitos perderam seus entes amados, passaram momentos difíceis internados e outros com medo de se contaminar. A gratidão contagia. É inevitável não compartilhar deste sentimento”. É o que afirma a enfermeira Hellen de Campos Madia, 36 anos, que atua na ESF (Estratégia Saúde da Família) do João Domingos Netto.

A emoção nos olhos da enfermeira também surgiu quando teve a oportunidade de vacinar a mãe, contaminada em setembro. No entanto, o pai de Hellen não pode vivenciar o mesmo sentimento. Proprietário da banca de revistas da rodoviária, José Rodrigues Madia perdeu a batalha contra a doença aos 65 anos. Homem de fé, chegou a rezar o terço antes da ida para o hospital e o não retorno para a casa. “Infelizmente perdi meu pai. Mas, saber que muitas vidas estão sendo poupadas com o avanço da vacina, nos fortalece dia a dia. São verdadeiramente doses de esperança”, salienta. De acordo com Hellen, o trabalho é cansativo, mas, ao mesmo tempo gratificante ao ver que a população compreendeu a importância de ser vacinada.

Satisfação a cada dose

Assim como ela, Thais Izawa Muramatsu da Trindade, 35 anos, enfermeira no ESF do Parque Alvorada, também fica satisfeita a cada dose aplicada. “A expectativa é muito grande de combater este vírus através do nosso trabalho. Somos da linha de frente e compartilhamos nossas alegrias em cada etapa que estamos avançando e vibramos todas as vezes que uma nova idade entra no cronograma de vacinação”, afirma. Thais considera a vacinação como sendo um dos momentos mais incríveis da profissão, o que requer paixão pelo que faz.

“Estamos trabalhando exaustivamente nesta campanha. Todos os pacientes são bem orientados quanto a vacina a ser aplicada, intervalos das doses, reações, e mostramos até  a seringa para certificá-los que a dose foi injetada corretamente. Também realizamos busca ativa  de pacientes faltosos de segunda dose, e vacinando em domicílio os acamados de nossa abrangência. Além disso, todas as doses aplicadas são lançadas nominalmente no sistema Vacivida”, explica. “O trabalho está sendo cansativo, por outro lado, é gratificante ver a satisfação  deles pelo nosso trabalho e a expectativa de combater essa pandemia”.

Esperança por dias melhores

Nem sempre a equipe de enfermagem lida com situações de alegria, e é preciso de preparo para evitar o estresse, ainda mais, quando o paciente resolve escolher o fabricante da vacina ou se recusa a tomar a dose disponível na unidade. “Tantas pessoas perderam a vida porque não tiveram a oportunidade de ser vacinadas e alguns deixando-a ir embora querendo escolher vacina”, lamenta Vinicyus Martins do Nascimento, 29 anos, auxiliar de enfermagem na ESF do Jardim Cambuci, que se recorda de uma situação que pode servir de exemplo para algumas pessoas. 

“Uma história que me comoveu foi de uma paciente que acompanhou o esposo nas duas doses da vacina, muito ansiosa para que chegasse também sua idade. Mas infelizmente o vírus foi mais rápido, ela teve Covid-19 e faleceu. Isso ficou muito marcado e sempre que vejo pessoas recusando vacina por não ser do laboratório que desejaria tomar, me recordo desta fatalidade, uma de muitas que ocorreram”, conta. Apesar disso, o auxiliar diz ficar realizado a cada aplicação. “É a certeza de que mais uma vida será salva, mais um sonho será alcançado, [porque] a vacinação é a nossa certeza de imunidade e esperança de dias melhores”.


Fotos: Roberto Kawasaki- Thais considera um dos momentos mais incríveis da profissão


Fotos: Roberto Kawasaki- Vinicyus: “é a certeza de que mais uma vida será salva”

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